03/09/2021 às 11h01min - Atualizada em 03/09/2021 às 11h11min

Eventos climáticos devem se agravar, mostra estudo do Instituto de Economia Agrícola

A pandemia e os efeitos das mudanças climáticas são dois fatores que aprofundaram a insegurança alimentar para milhões de pessoas no Planeta. Segundo o Instituto de Economia Agrícola da Secretaria Estadual de Agricultura do governo de São Paulo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) “confirma a tendência para o aumento de subalimentados em razão de crises econômicas, desigualdades sociais, conflitos políticos e de variações climáticas extremas”.

O relatório é avassalador. Indica que 811 milhões de pessoas passam fome enquanto outras 2,3 bilhões não têm acesso à água e alimentação adequada. São 30% dos habitantes da Terra. Com isso, a busca do programa de Desenvolvimento Sustentável da ONU encontra dificuldades para ser implantado. Um dos seus objetivos mais urgentes é a eliminação da fome.

A situação não é menos dramática no Brasil, segundo aponta estudo dos professores Soraia de Fátima Ramos, Rosana de Oliveira Pithan e Silva e Celso Luís Rodrigues Vegro publicado no site do Instituto de Economia Agrícola (IEA). Um estudo chamado “Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid 19 indica que “mais da metade dos brasileiros, 116,8 milhões de pessoas, padeciam com a insegurança alimentar em 2020. Desse total, 43,4 milhões não tinham alimentos suficientes e 19 milhões enfrentavam a fome”.

 


A mudança climática e seus efeitos

As ações humanas são as responsáveis por alterações no “clima global, elevação das temperaturas e alterações nos padrões de precipitações”. As conclusões são a partir de estudos científicos. Essas informações estão no 6º Relatório Internacional do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas.

O documento mostra que a agricultura vive um dilema no processo. Ela “é um setor que influencia na emissão de gases de efeito estufa e, também, é fortemente afetada pelas variações climáticas”. O estudo acredita que a COP-26 (Conferência Mundial do Clima) sobre mudança climática deverá reforçar o compromisso dos países para práticas de produção de alimentos aderentes ao desenvolvimento social e preservação dos ecossistemas naturais”. "A estruturação do agronegócio capaz de mitigar os impactos climáticos”.

 

Hortaliças

O agronegócio precisa ficar atento. Crescem queimadas e desmatamentos e o fenômeno climático atinge a agricultura de forma agressiva e, eventualmente, devastadora. As estiagens ou o frio intenso (seca, geadas e nevadas) afetam a produção e oferta de alimentos, dizem os pesquisadores.

Em 2021 as geadas foram implacáveis em importantes regiões produtoras. Entre os meses de junho, julho e agosto de 2021 causaram novas perdas aos produtores quem já vinham sofrendo com os impactos das secas. Ao mesmo, eles se veem em meio ao aumento nos custos de produção, inflação, cotação elevada do dólar, desemprego e precarização do trabalho. Os preços também prejudicam a atividade rural e os consumidores, com muita intensidade.

O DIEESE aponta que entre janeiro de 2019 e julho de 2021 o poder de compra da cesta básica em relação ao valor do salário mínimo, caiu muito. "Para comprar uma cesta básica em março de 2020, o trabalhador brasileiro precisava trabalhar 109 horas e 10 minutos. Em junho de 2021 passou a precisar de 129 horas e 5 minutos11, cerca de 18% a mais que o ano anterior", relata o estudo.

Os produtos hortifrúti foram muito afetados. O morango, a alface, o espinafre, manjericão e legumes como cenoura e chuchu, por exemplo. A quebra fica entre 30% a 40%. A geada foi a maior inimiga. As hortaliças têm um ciclo curto de produção de devem ser as primeiras culturas a se recuperarem.

Os pesquisadores relatam que “os dados do levantamento de preços agropecuários do mês de julho do Instituto de Economia Agrícola indicam que as fortes geadas impactaram frutas e hortaliças com a alta nos preços do tomate para mesa (+67,10%), batata (54,25%) e banana nanica (+43,86%)”. A variação de preços em função das mudanças climáticas elevou em 12 meses o preço do tomate em 82,03%1.

 

O Café

O IEA indica que a produção de café da safra 2021/2022 no estado de São Paulo vai ser de 6 milhões de sacas de 60 quilos e, portanto, permanece na média da colheita das últimas três safras. A ressalva, no entanto, é para a “estiagem prolongada no período chuvoso, seguida por ondas de massa de ar polar nos principais cinturões cafeeiros paulistas, (que) ocasionou perdas substanciais nas lavouras’.

Ainda assim, há perdas quase que totais em parte substancial da área plantada com café no cinturão verde, que compreende ainda os estados de Minas, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Paraná.

Há o “encurtamento no desenvolvimento dos ramos produtivos” e isso “limita a produção futura”. Quando geou, “esses mesmos ramos foram novamente afetados”. Por isso, há previsão de perdas totais da produção em alguns locais. "As estimativas”, segundo o IEA, “acenam para redução de 10 a 12 milhões de sacas na safra brasileira”. A qualidade da bebida também vai ser afetada, negativamente.

Levantamento mensal Portal do Varejo, do IEA, “indicou aumento de 14% nos preços do café em pó em 2021. Entre junho e julho já se observou aumento de 5,5%”. A indústria acredita que até o final deste ano os preços podem se incrementar em mais de 40%”. Mesmo assim, eles não são suficientes para cobrir os custos de produção.

 

O Leite

A produção de leite não foge à regra. “Intempéries climáticas, como o período de seca, com a entrada na entressafra do produto em maio, já haviam provocado a elevação dos preços em 9,5%, até julho de 2021”, diz trecho do estudo. “Com as geadas, os pastos foram altamente comprometidos, mas o impacto não ocorre de imediato, pois o pagamento aos produtores ocorre apenas 30 dias após a entrega do produto ao laticínio, informa.

O varejo vai demorar um pouco mais para sentir os efeitos das variações climáticas. Segundo o estudo, os grandes supermercados e atacadistas trabalham com grandes estoques, principalmente do leite longa vida, e, por isso, os consumidores vão sentir o aumento dos preços, mais tarde. Os pesquisadores dizem, no entanto, “que o mercado lácteo já está ressentido, e não há espaço para grandes aumentos dos preços para o consumidor neste momento” e que a “indústria já se manifesta preocupada com os rumos do consumo”.

Para mostrar a situação em tempo real, o estuo traz “os dados de julho do Índice de Preços dos Supermercados (IPS), da Associação Paulista de Supermercados (APAS)”, e eles mostram que, em relação ao mesmo período de 2020, houve desaceleração na alta para o consumidor, registrando elevação de 3,3%, diante do avanço de 21,62% do ano anterior”.

Por fim, os pesquisadores informam que o “efeito do clima trouxeram prejuízos para o setor produtivo paulista” e que “a recuperação das atividades exigirá maiores investimentos, afetando o custo de produção dos alimentos, já tão comprometido com as variáveis citadas anteriormente”.

 

MEDIDAS

A indicação são “aportes de créditos emergenciais e subvenção para aquisição de mudas de café e hortaliças, bem como para aquisição de fenos, pré-secados e silagens para a pecuária de leite, estão entre ações necessárias para execução do poder público.

Entre as possibilidades, estão o seguro rural” indicado “para compensar perdas por eventos climáticos e/ou preços” e o “Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista – o Banco do Agronegócio Familiar (Feap/Banagro), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, disponibiliza quatro modalidades com limite de subvenção de R$15.000,00”

Seguros agrícolas têm sido uma saída para o produtor. Ele cresce. “No momento, foram aportados mais de R$30 milhões para o seguro rural, totalizando R$57 milhões em 2021, importância 11,7% superior aos R$51 milhões em 202019. O Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (FEAP) disponibiliza crédito “para produtores rurais afetados pela pandemia, seca e geadas, no total de R$100 milhões”. A parceria com o Sebrae garante ainda outros R$ 50 milhões para quem teve perda com a geada.

O estudo é pessimista. Acredita que os eventos climáticos negativos vão continuar e se agravar. “Daí a urgência dos governantes executarem políticas públicas compensatórias para que os agricultores consigam em curto prazo reverter a situação desfavorável” e à “longo prazo, espera-se que as inovações nos sistemas agroalimentares contribuam para assegurar o direito à alimentação, erradicar a pobreza, preservar a biodiversidade e ser resiliente às mudanças climáticas”.

 

Da Redação.


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