A Bolsa de Valores brasileira (B3) fechou em queda expressiva nesta sexta-feira (18), com o dólar em alta, refletindo a forte aversão ao risco no mercado. A apreensão se deu em meio a um possível acirramento da crise entre o Brasil e o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, após medidas tomadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, contra Jair Bolsonaro. O Ibovespa, principal índice da B3, caiu 1,61%, fechando aos 133.381,58 pontos, e registrou uma queda de 2,06% na semana. O giro financeiro totalizou R$ 26,1 bilhões.
A tensão no mercado foi exacerbada mais cedo com o cumprimento de mandados de busca e apreensão na casa do ex-presidente Jair Bolsonaro, por determinação de Moraes. Na operação, foram apreendidos um pen-drive encontrado no banheiro, US$ 14 mil e uma cópia de uma ação contra o próprio ministro Alexandre de Moraes.
Max Bohm, estrategista de ações da Nomos, explicou que o estresse do mercado deriva da incerteza sobre a relação entre Trump e o Judiciário brasileiro. "Com o STF querendo confrontar o Trump [referindo-se a uma carta de Trump apoiando Bolsonaro e criticando a justiça brasileira], desagrada o mercado. A questão institucional e hoje é sexta-feira, o investidor desmonta posição. Já saíram mais de R$ 4 bilhões da B3 [este mês]", afirmou.
Christian Iarussi, economista e sócio da The Hill Capital, reforça que o tom de percepção de risco é político e geopolítico. "A operação da PF contra o ex-presidente Jair Bolsonaro aumentou a tensão nos mercados, principalmente, pelo receio do impacto disso nas relações com os Estados Unidos, considerando o momento delicado com a questão tarifária imposta pelo Trump. O risco é o presidente americano reagir. Há um temor real de que Trump use a situação para justificar uma escalada tarifária contra o Brasil. E isso pega direto nos setores mais exportadores como agronegócio, aviação e manufatura", destacou Iarussi, mencionando ainda o vencimento de opções, que contribuiu para a busca de proteção e redução de exposição ao risco Brasil.
Bruno Komura, analista da Potenza Capital, também expressou preocupação com uma possível escalada da tensão, mas ressaltou a falta de clareza sobre o cenário. "Não se sabe o que esperar de uma eventual negociação entre os países. É preciso ver o que [Trump] está querendo, se está usando essa questão política como pretexto ou se realmente está com esse viés. Pode ser que esteja mais preocupado com as empresas americanas. Se tiver viés político, vamos ver uma escalada e isso vai ser pior. Ainda existe essa dúvida. O aumento de incerteza e a falta de visibilidade provocam saída de capital. Para os recursos virem pra cá, é preciso ter algum tipo de gatilho, e por enquanto não tem nada no curto prazo. Qualquer informação nova pode mudar as perspectivas, isso pode vir por uma postagem nas redes sociais. O mercado acaba cobrando um prêmio de risco por essas incertezas", explicou Komura.
No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou em alta de 0,75%, cotado a R$ 5,5886, refletindo os imbróglios comerciais. Na semana, a moeda estadunidense valorizou 3,03%. Ian Lopes, economista do Valor, avalia que, enquanto não houver clareza sobre os próximos capítulos da guerra comercial, o cenário permanecerá de cautela, gerando volatilidade ao câmbio.
“Todas estas incertezas fazem com que o mercado caia e o dólar suba”, disse.As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) também fecharam em alta, em movimento diretamente relacionado ao imbróglio comercial entre Brasil e Estados Unidos.