Foto: Reprodução Na essência, a “Conta do Boi” nada mais é do que estabelecer, dentro da atividade métricas, metas (objetivos de produção) e caminhos pelos quais é possível atingir essas metas. Quando se pensa em conta, é necessário trabalhar dois planos de gestão: a gestão operacional da fazenda, contemplando pessoas, operação, aspectos técnicos e zootécnicos, além da gestão financeira.
Segundo Daniel Carvalho, Diretor de Mercado Corte da Semex Brasil e mediador do Fórum “A Conta do Boi”, dentro da programação da Feicorte 2024, muitas vezes a fazenda tem processos de gestão operacional, mas não de gestão financeira, esse é o gargalo. “Quando falamos em gestão financeira, falamos em orçamento, planejamento de custo e de venda (aspectos ligados também ao mercado), e estratégias para garantir margem líquida dentro da operação”, afirma Carvalho.
Ele comenta que são estratégias relativamente complexas, mas que exigem profissionalismo, por isso, a pecuária precisa estar cada vez mais profissionalizada.
“Seja qual for a fase de produção – cria, recria ou terminação, até mesmo o ciclo completo –, quanto mais métricas e objetivos pré-estabelecidos (e principalmente objetivos de lucratividade), fica mais fácil. Primeiro, vejo o quanto eu quero ganhar, para depois saber o que preciso fazer e quais recursos preciso dispor para alcançar esse valor (pensando no plano nutricional, no plano sanitário, no plano genético e nos alicerces que vão estruturar esse ganho)”, analisa o executivo.
Para ele, fala-se muito em ganho médio global (o ganho médio de toda a operação). E isso é o que permite que se planeje quando terá a desmama, o final da recria, quando vai terminar esse animal e quanto vai investir nisso.
Atualmente, o custo está muito relacionado à margem, e a maior parte do custo, hoje, que inclui uma operação de recria, é a reposição. Ou seja, é o custo do bezerro a ser recomprado. “Estamos vivendo um momento de alta de arroba, mas a arroba do bezerro e do boi magro também está mais cara, então, preciso fazer a conta de quanto vou gastar na reposição e, também, quanto vou gastar na nutrição e na sanidade, para que eu possa obter lucratividade”, ressalta Carvalho.
Quatro caminhos
Conforme o especialista, a Conta do Boi aponta quatro caminhos: Cria, Recria, Terminação e Fator mercado. De acordo com ele, a Cria envolve a genética, o planejamento relacionado ao bezerro (quando ele vai nascer, quando será desmamado e qual potencial genético ele tem), e à fêmea (o que eu vou fornecer para o bezerro e para a mãe, para que ela continue no sistema). “Ao mesmo tempo, não podemos perder a fêmea, afinal ela precisa deixar um bezerro lucrativo, independente se meu foco é continuar com esse bezerro, sem perder o lucro na operação, ou se vou vendê-lo com valor agregado”, diz.
Outro caminho é a Recria, que costuma ser uma fase negligenciada, mas deve ser bem cuidada. “Aqui, novamente, o potencial genético é importante, assim como a nutrição”, avalia.
Há ainda, segundo ele, a Terminação, que teoricamente é a fase mais fácil. Carvalho explica que “o potencial genético é expressado pelo composto mãe-pai, mas a nutrição, a programação fetal e o nível de nutrição da fêmea (ainda gestante) é que vão ditar o potencial de índices zootécnicos do animal para uma melhor performance, como a fibra muscular e o tecido adipócito, ou seja, gordura (subcutânea e intramuscular), rendimento de carcaça e eficiência biológica”.
Carvalho também cita o Fator Mercado. “Nesse sentido, entramos em outro cenário: o de agregação de valor, de qualidade da carne – um cenário à parte do boi commodity. E, diante disso tudo, acrescentamos à conta o Fator Mercado, que tem impacto direto nos preços. É possível travar esse fator (ou seja, o preço) por meio de mecanismos mercadológicos de proteção. Entretanto, é preciso dosar isso com o momento da pecuária, se o ciclo é de alta, etc.”, informa.
Profissionalismo
Ele menciona que tudo isso foi amplamente debatido com muitos especialistas, para que o pecuarista pudesse compreender que é complexo, mas exige profissionalismo. “Tem muitas oportunidades, e isso foi amplamente debatido, e conseguimos dar ao nosso público uma noção completa de como deve ser operacionalizado e trabalhado”, conta Carvalho.
A Conta do Boi, portanto, segundo ele, é alicerçada em gestão da operação e também a financeira, principalmente. “Precisamos elevar a régua e trazer a pecuária de corte para o nível de profissionalismo, como ela nunca teve. Aí é possível ter rentabilidade, calcular em R$/hectare/ano (como fazemos na agricultura). Aí é onde a gente precisa trabalhar”, ressalta.
Ele lembra que as ferramentas de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) não são concorrentes. “Elas são complementares, trazem ainda mais rentabilidade, maior taxa de uso da terra, então precisamos trabalhar de maneira consonante, integrada”, recomenda.
Para ele, no futuro próximo, vamos entregar áreas de pecuária. “A fronteira agrícola acabou, não vai existir mais desmatamento, toda a parte relacionada à certificação vai ficar cada vez mais rigorosa, principalmente para mercados estrangeiros que vão demandar que estejamos mais adequados aos protocolos socioambientais. Tudo isso está sendo trabalhado em conjunto, e aqui temos a oportunidade. Podemos ser muito mais eficientes, e está aí a bola da vez. Fechamos a Conta do Boi com grandes oportunidades”, pontua o executivo.
Feicorte e mercado
Na opinião de Carvalho, a Feicorte abordou o assunto de oportunidade de agregação de valor com a qualidade de carne como um tema a parte, mas que mostrou o mercado além da commodity. “E isso tem endereço mercadológico praticamente garantido, com várias prateleiras, várias marcas”, analisa.
Ele diz que o mercado de carne de qualidade cresce muito mais do que o mercado de commodity, que também cresce bastante. “Estamos abrindo frentes de exportações. Hoje, praticamente o Brasil comercializa em 65% a 70% dos países, em mercados com maior capilaridade, mercados cada vez mais jovens e mais novos, por isso, é importante a gente não ficar na mão de um único mercado, como temos hoje cerca de 50% das exportações para a China e Hong Kong”, comenta.
“Temos oportunidade de abrir novos mercados e adicionar nessa entrega qualidade de carne para alçar novos voos, e a régua vai ter que subir, mas sabemos como fazer, já produzimos esse material. Hoje a maior parte fica no mercado interno, mas temos essa oportunidade de encaminhar para a exportação”, arremata Carvalho.