De acordo com um estudo conduzido por cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), o mercado de produtos orgânicos no Brasil experimentou um crescimento significativo, atingindo um aumento de 30% nas vendas em 2020, gerando um movimento financeiro de R$ 5,8 bilhões. No entanto, apesar desse avanço, a pesquisa também destaca lacunas na coleta de dados sobre o cultivo de orgânicos no país.
Publicada na revista científica Desenvolvimento e Meio Ambiente, a pesquisa utilizou informações do Censo Agropecuário de 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos (CNPO) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), bem como dados sobre consumo das pesquisas da Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis) e do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Durante o período entre 2003 e 2017, as vendas de produtos orgânicos no Brasil aumentaram quatro vezes. No ano de 2020, registraram um crescimento expressivo de 30%, alcançando o montante de R$ 5,8 bilhões. Além disso, o estudo revelou um aumento de 75% no cadastro de produtores de orgânicos no país entre 2017 e 2022.
De acordo com os dados levantados, 1,28% das áreas de cultivo correspondem a propriedades com agricultura orgânica, sendo que 30% delas estão localizadas na região Sudeste do país. Estima-se que esse tipo de cultivo ocupe 0,6% das áreas agrícolas brasileiras, com 36.689 estabelecimentos focados na produção vegetal e 17.612 dedicados à produção animal orgânica.
Andreia Lourenço, pesquisadora da UFRGS, apontou que embora haja uma tendência de aumento na demanda por produtos orgânicos, a produção ainda não consegue suprir essa demanda, o que requer um estudo mais aprofundado sobre a oferta e os produtos mais requisitados.
Ela enfatizou a importância da participação da sociedade na construção de políticas públicas adequadas, envolvendo consumidores e produtores em espaços de discussão. A pesquisadora destacou a necessidade de políticas não apenas em âmbito nacional, mas também estadual, visando diferentes escalas de produção.
Carla Guindani, da empresa Raízes do Campo, ressaltou a necessidade de investimentos no setor de orgânicos, especialmente para desenvolver tecnologias de produção de sementes, fundamental para a agricultura familiar. Ela mencionou a importância do acesso a bioinsumos, maquinários adequados e certificação de alimentos orgânicos, propondo metodologias de certificação mais acessíveis.
Guindani ainda apontou desafios logísticos e a necessidade de maior espaço nos supermercados para produtos orgânicos.