19/04/2022 às 11h34min - Atualizada em 19/04/2022 às 11h34min

Mercado do boi segue normalidade

Como havíamos previsto nos últimos 15 dias nos artigos publicados em nossa coluna “De Olho no Mercado”, a última semana foi de quedas mais expressivas para arroba do boi gordo em todas as praças, em especial na quinta-feira, dia 14. A escala de abate cresceu um dia em média no país, enquanto quatro plantas frigoríficas em dois estados (São Paulo e Mato Grosso) foram suspensas, temporariamente, de exportar carne bovina para a China.

Os fundamentos não mudam e temos insistido em ressaltar ao pecuarista, e todos os membros da cadeia produtiva da carne bovina brasileira, que é um momento sazonal. O cenário segue muito favorável para o setor, em alguns momentos mais rentável para um elo ou outro. Mesmo com um dólar mais baixo, há uma expectativa de faturamento recorde para as exportações de carne bovina que pode chegar a R$ 3,6 bilhões em abril (projeção baseada nas médias diárias de preço e volume da Secex), o que vai totalizar quase R$ 19 bilhões nos quatro primeiros meses do ano.

Para o pecuarista, especificamente, eu diria o seguinte: o maior volume de bois terminadas veio cerca de 30 dias antes e deve encerrar uns 30 dias mais cedo também. Faz parte do negócio.

Por outro lado e em termos comparativos, os valores em Reais mostram altas de 50% frente ao mesmo período do ano passado, o que traz um cenário muito positivo e de forte demanda. Ainda olhando mais internamente na cadeia produtiva, temos uma janela de oportunidade para aquisição de animais magros e bezerros no país. O recuo é bem mais intenso, se comparado aos valores da arroba.

Para quem trabalha com terminação é sempre bom ficar de olho nos fundamentos do mercado agrícola. E, não tenham dúvida, mesmo o pecuarista que atua com integração lavoura e pecuária, dependendo do preço do cereal e da expectativa da arroba, não é incomum dizerem “sou vendedor de milho”. Certo, mas este fator é lembrado pelos parâmetros de caminharmos para uma colheita de milho recorde no Brasil na segunda safra e, caso se concretize, os preços vão seguir em recuo com uma boa recuperação dos estoques de passagem de safra. Também, o dólar pouco mais desvalorizado frente ao Real (que reduz os preços da carne bovina exportada) tira a competitividade de exportação do milho. Os embarques do cereal serão recorde assim como o consumo interno. O que pode mudar agora? Os efeitos da guerra da Rússia ao invadir a Ucrânia. A Ucrânia, se conseguiu mesmo semear alguma coisa, vai consumir tudo. Eles são um dos maiores players do mundo e o consumo internacional vai precisar de mais milho dos EUA e Brasil, certamente… Também, o preço internacional do milho (referência Chicago) mostra ser melhor para o produtor norte-americano plantar mais milho e não soja na safra 2022/23. Enfim, o pecuarista, principalmente confinador, precisa ficar muito atento a este elemento.

Volatilidade?

Pensando na informação confirmada na última sexta-feira, da suspensão temporária de quatro plantas frigoríficas de três empresas exportadoras distintas, nos estados de São Paulo e Mato Grosso, podem proporcionar alguma volatilidade, mas é mais provável haver uma esticada nos dias de escalas de abates e manutenção nos preços da arroba, com pouca queda nesta semana, que tem mais um feriado na quinta-feira, o que faz eu pensar em uma semana de apenas três dias de negócios.

No comércio varejista brasileiro fica sempre uma incógnita no repasse dos preços em alta e quando há baixa. A verdade é que o consumidor brasileiro já poderia pagar um pouco menos pela carne bovina. Os preços internos do produto seguem elevados com pequenos recuos nas praças de São Paulo e Rio de Janeiro. O que tem ocorrido é que parte da indústria responsável pelo abastecimento interno (não-exportadora) trabalhou os últimos meses com margens muito apertadas, vão demorar para repassar qualquer recuo.

Para encerrar, a questão das plantas frigoríficas com a China está ligado a encontrarem algum vestígio de vírus Covid-19 na embalagem das carnes. Em breve teremos a resolução para o fator que tem muito mais cara de barreira econômica do que alguma “real” preocupação sanitária. Na semana, as pressões sobre a arroba devem seguir, mas não vejo mais margem para reduções mais expressivas em outra semana curta.


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