Usinas ampliam fronteira do etanol e transformam trigo e milho em alternativa energética no Sul

Com investimentos bilionários, novas plantas em SC e RS devem processar grãos de baixa qualidade e fortalecer o agro regional com biocombustíveis e novos subprodutos

- Da Redação, com Canal Rural
11/06/2025 08h49 - Atualizado há 1 dia
Usinas ampliam fronteira do etanol e transformam trigo e milho em alternativa energética no Sul
Foto: reprodução

A produção de biocombustíveis no Brasil ganha um novo impulso com a construção de usinas de etanol em quatro municípios do Sul do país. Os empreendimentos localizados em Campos Novos (SC), Passo Fundo, Cruz Alta e Santiago (RS) devem transformar milhões de toneladas de milho e trigo em etanol, subprodutos para ração animal e gás para bebidas, ao mesmo tempo em que oferecem destino sustentável para cereais de baixa qualidade, que não servem para o consumo humano.

O polo mais adiantado é o de Santiago, no oeste gaúcho, onde a CB BioEnergia investe cerca de R$ 100 milhões na primeira usina de etanol de trigo do Brasil. A planta deve começar a operar até setembro, com capacidade anual de produção de 12 milhões de litros de etanol. O diretor da empresa, Tiago Gorski Lacerda, ressalta que a usina utilizará exclusivamente matéria-prima local e de baixo padrão, muitas vezes destinada à exportação para nutrição animal. “Jamais vamos usar grãos destinados à alimentação humana”, afirma.

Em Passo Fundo, no norte do Rio Grande do Sul, a construção da usina teve início em abril e representa um investimento superior a R$ 1 bilhão. A expectativa é que a planta atenda 23% da demanda de biocombustíveis do estado. Além do etanol, a unidade será a primeira do Brasil a produzir glúten vital, uma proteína valorizada na panificação, com distribuição prevista para todo o mercado nacional e países do Mercosul.

No noroeste gaúcho, Cruz Alta deve abrigar uma indústria com capacidade para processar até um milhão de toneladas de soja por ano. Com inauguração prevista para 2027, a planta irá produzir óleo de cozinha, biodiesel, farelo, glicerina e casca de soja, ampliando ainda mais o leque de derivados do agronegócio local.

Em Santa Catarina, a cidade de Campos Novos maior produtora de grãos do estado também já tem uma usina de etanol em construção, sob responsabilidade da Copercampos. Com previsão de funcionamento para maio de 2026, a planta terá capacidade para produzir 3,7 milhões de litros de etanol hidratado e 32 milhões de litros de etanol anidro por ano, com uso predominante de milho, mas também com possibilidade de processar trigo.
 

Diante das perdas das últimas safras provocadas por eventos climáticos, especialmente no Rio Grande do Sul, muitos grãos não atingiram o padrão de qualidade necessário para exportação ou consumo humano, sendo destinados à ração animal. Agora, parte desse volume ganha novo valor com a transformação em energia. Além disso, a perspectiva é de que as novas usinas incentivem a expansão das áreas plantadas com milho e trigo, culturas que vêm perdendo espaço nos últimos ciclos agrícolas.
 

Para o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Paulo Bertolni, os investimentos representam um marco para a sustentabilidade e a valorização do produtor. “O agricultor passa a ter mais de um mercado para seus grãos. A indústria estimula pesquisa, traz tecnologia e dá liquidez, segurança e incentivo para aumentar a produção, até mesmo substituindo culturas como a soja”, avalia.

 

 


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