19/10/2021 às 12h17min - Atualizada em 19/10/2021 às 12h24min

Imponderável X ponderável: a barreira comercial criada pela China

É inegável e esperado o comportamento no mercado do boi gordo no Brasil para o momento. Há uma clara pressão no valor da arroba. O valor médio da arroba do boi gordo, à vista, em São Paulo, por exemplo, recuou R$ 37,50 desde 4 de setembro, considerando o valor pago para o Boi China e os preços médios de agora. Também não posso deixar de ressaltar a barreira comercial da China contra o Brasil. Vejam só: Reino Unido teve caso clássico de vaca louca e já estão liberados.

Vou começar pela arroba do boi gordo e, devo falar também dos feriados, na China, no Brasil, como eles ajudam a dar sustentação em uma situação cada vez mais insustentável para o pecuarista. Os comparativos mostram um cenário de perdas relevantes em toda cadeia produtiva:

- As exportações brasileiras de carne bovina, nos seis primeiros dias úteis registraram 30,43 mil toneladas, com média diária de 5,07 mil toneladas, 37,65% abaixo da média de out/20 e 43,05% da média de set/21;

- Os feriados prolongados. Tanto na China quanto aqui no Brasil, trouxeram uma espécie de “afrouxamento” no processo de retomada, ou deram o argumento para os negociadores asiáticos seguirem com as discussões paradas e pressionando o mercado por aqui;

- O cenário do parágrafo anterior reforça nossa previsão da última semana da China, tentar estender a suspensão durante todo o mês de outubro;

- Com este ambiente configurado, a indústria frigorífica exportadora segue longe da ponta compradora. Os motivos são a China afastada das aquisições e a falta de um diagnóstico preciso do mercado interno;

- O pecuarista, de fato, é o mais atingido, preço médio à vista em São Paulo, recuou R$ 37,50 desde 4 de setembro. A praça paulista, referência no negócio boi perde muito força, a praça de Campo Grande/MS hoje tem igualdade de preços praticados;

Neste momento, a busca deve ser por reduzir a “sangria”, através de uma contenção de custos, mas é uma ação complicada, quando há a terminação em andamento.

Lembro que há algum tempo tenho dito em meu programa de televisão que o produtor rural, seja agricultor ou pecuarista, precisa utilizar os bons momentos de comercialização, com margens de rentabilidade mais largas, para ficar MELHOR e não MAIOR. Não é uma ideia original minha, mas sim, do professor Marcos Fava Neves e precisa ser de todos nós. Na pecuária, o produtor precisa desta melhoria tecnológica e técnica, uma clara maneira de ter redução de custos e alargar as margens. Basicamente, ficar melhor é reinvestir na propriedade e na produção, não é necessariamente ampliar plantel ou, pior, aquisição de áreas. Ainda mais dentro de um momento inflacionário em toda economia.

Barreira comercial! nunca existiu barreira sanitária

Amigo pecuarista, toda a situação que tem tirado o seu sono é resultado direto da articulação de “um negociador” habilidoso que encontrou uma brecha no modo de produção do Brasil e o tem utilizado como ferramenta de pressão para reduzir os preços.

É muita clara a atitude chinesa “oportunista” de buscar reestabelecer um preço para carne bovina.

Reforço a ideia ao trazer para este artigo a relação da China com a aquisição de soja, principalmente junto aos Estados Unidos. Os asiáticos precisam comprar a oleaginosa do Brasil (maior fornecedor) e dos EUA (segundo maior), não há alternativas relevantes. Quando a soja está em Chicago acima de US$ 13,40 o bushel, os chineses se afastam das aquisições quase por completo. No cenário de alguma situação baixista para Chicago, como a do último dia 12/10 com um relatório baixista do Departamento de Agricultura dos EUA, mostrando produção e estoques de passagem maior da safra norte-americana, e preço abaixo de US$ 12 na CBOT, entraram comprando.

Basicamente, houve a brecha, as autoridades brasileiras tomaram todas as providências. Os casos de vaca louca no país foram atípicos, rapidamente explicados e absorvidos pela Organização Internacional de Saúde Animal. Entretanto, China não quer conversar agora. Está jogando pressão para o lado de cá e isso é muito claro.

Recentemente o Reino Unido também tem caso de vaca louca, caso clássico, perigoso para o consumo humano. A decisão divulgada pela Administração Geral de Alfândegas da China foi que o Reino Unido só poderá exportar ao país carne bovina desossada e congelada de animais que tinham até 30 meses de idade na hora do abate.

Imponderável X ponderável

Ok. Sorte dos súditos da Rainha? Creio que não. 

Basicamente, o volume comprado de carne bovina do Brasil é muito maior que do Reino Unido e é por aqui que eles querem pressionar os preços.

Era quase imponderável imaginar o surgimento de caso de vaca louca (atípica) neste ano tão relevante para pecuária de corte do País. Ponderável é a reação (comercial) do principal destino da carne bovina brasileira.

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