A promessa do ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, de eliminar as retenciones (tarifas de exportação) durante a gestão do presidente Javier Milei não foi suficiente para acalmar os ânimos do setor agropecuário. Após declarações nas redes sociais, em que pediu “paciência” ao campo, entidades rurais reagiram com firmeza, cobrando ações concretas para garantir a rentabilidade do setor.
“Paciência não te dá renda”, rebateu Ignacio Kovarsky, presidente da Carbap (Confederação das Associações Rurais de Buenos Aires e La Pampa). Segundo ele, mais do que declarações públicas, o governo precisa sentar à mesa com os produtores e abrir negociações efetivas. “O campo está no limite. Se quiserem trabalhar com o setor, terão que conversar de verdade”, afirmou.
Em meio à tensão, a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, buscou amenizar os ânimos durante um encontro com representantes da Sociedade Rural Argentina. “Somos pró-campo. As medidas tomadas pelo presidente visam preparar o terreno para o crescimento sustentável. Os frutos virão”, declarou, reforçando que o apoio ao agronegócio será mantido.
As retenciones haviam sido parcialmente reduzidas entre março e junho, o que aumentou a competitividade da soja argentina no mercado externo. Com o retorno da tarifa cheia em julho, a comercialização desacelerou e produtores voltaram a ficar desestimulados. Segundo dados da Agrinvest Commodities, apenas dois dos 30 cargos de soja comprados recentemente pela China vieram da Argentina; os demais foram brasileiros.
Ainda assim, o impacto da redução temporária foi visível: desde junho, a Argentina negociou 81 cargas com a China, contra 151 do Brasil e nenhuma dos Estados Unidos. O head de inteligência de mercados da Stag Securities, Chau Hue, destaca que o mercado chinês observa de perto a situação, aguardando os desdobramentos das negociações entre EUA e China, enquanto aproveita a janela sul-americana.
Apesar das promessas do governo argentino, o setor agropecuário mantém a pressão. Entidades rurais já indicam que o tempo de espera está se esgotando, e que o governo Milei terá que agir rapidamente para manter o apoio de um dos pilares da economia nacional: o agronegócio