Tarifa de 50% de Trump ameaça receitas do agronegócio brasileiro, alerta Cepea

Desequilíbrios podem pressionar preços do suco de laranja, café, carne bovina e frutas frescas exportados para os EUA

21/07/2025 09h35 - Atualizado há 2 dias
Tarifa de 50% de Trump ameaça receitas do agronegócio brasileiro, alerta Cepea
Foto: Reprodução

A decisão do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de estabelecer uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para o país pode comprometer significativamente as receitas do agronegócio brasileiro, provocar desequilíbrios de mercado e pressionar os valores pagos aos produtores.

O alerta vem do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP). Segundo o Cepea, os segmentos mais expostos a essa nova política tarifária são o mercado de suco de laranja, o setor cafeeiro, a pecuária de corte e o de frutas frescas.

Dentre esses, o suco de laranja é considerado o produto mais sensível. Os pesquisadores do Cepea explicam que já incide uma tarifa fixa de US$ 415 por tonelada sobre o produto, e a sobretaxa de 50% elevaria drasticamente o custo de entrada nos Estados Unidos, comprometendo sua competitividade no segundo maior destino dos embarques brasileiros. Os EUA importam cerca de 90% do suco que consomem, sendo o Brasil responsável por aproximadamente 80% desse total.

"Essa instabilidade ocorre justamente em um momento de boa safra no estado de São Paulo e Triângulo Mineiro: 314,6 milhões de caixas projetadas para 2025/26, crescimento de 36,2% frente ao ciclo anterior. Com o canal norte-americano sob risco, o acúmulo de estoques e a pressão sobre as cotações internas tornam-se prováveis”, avaliou a professora da Esalq/USP Margarete Boteon, pesquisadora da área de citros do Cepea.

Em relação ao café, os Estados Unidos são o maior consumidor global do produto e importam cerca de 25% do Brasil, especialmente da variedade arábica, insumo essencial para a indústria local de torrefação. Como os EUA não produzem café, a elevação do custo de importação deve comprometer a viabilidade de toda a cadeia interna.

"A exclusão do café do pacote tarifário é não apenas desejável, mas estratégica, tanto para a sustentabilidade da cafeicultura brasileira quanto para a estabilidade da cadeia de abastecimento norte-americana”, destaca o pesquisador de café do Cepea Renato Ribeiro.

A instabilidade externa tem levado produtores a venderem volumes mínimos, adiando grandes negociações. Para a carne bovina, os Estados Unidos são o segundo maior comprador, representando 12% das exportações brasileiras, atrás apenas da China (49%). Entre março e abril, empresas americanas adquiriram volumes recordes de carne bovina, acima de 40 mil toneladas por mês, o que pode indicar formação de estoque diante do receio de tarifas.

São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul são os principais estados exportadores para os EUA. Apesar disso, houve redução no volume exportado para os EUA nos últimos meses, enquanto os embarques para a China cresceram. O Cepea observa que frigoríficos brasileiros têm a possibilidade de ampliar vendas para outros mercados.

No mercado de frutas frescas, o maior impacto imediato recai sobre a manga, cuja janela crítica de exportação para os EUA começa em agosto. Já há relatos de postergação de embarques. A uva brasileira, com safra relevante para os EUA a partir da segunda quinzena de setembro, também está em alerta.

Lucas de Mora Bezerra, do Cepea, afirmou: “A projeção otimista foi substituída por dúvidas. Além da retração esperada nas vendas aos EUA, há o risco de desequilíbrio entre oferta e demanda nos principais destinos, pressionando as cotações ao produtor”.

A alternativa seria direcionar as frutas para outros mercados, como a União Europeia, ou para o mercado interno, o que pode pressionar o preço ao produtor. Diante desse cenário, o Cepea enfatiza a urgência de uma “articulação diplomática coordenada, com vistas à revisão ou exclusão das tarifas sobre produtos agroalimentares brasileiros”.

A instituição conclui que tal medida é estratégica não apenas para o Brasil, mas também para os próprios Estados Unidos, cuja segurança alimentar e competitividade agroindustrial dependem substancialmente do fornecimento brasileiro.


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