Parece café, mas não é: 'Cafake' enganando consumidores, diz Abic

Subproduto produzido a partir de cascas, folhas, palhas e paus da planta é oferecido pela metade do preço. Fabricante nega tentativa de enganar a população

- Da Redação, com Canal Rural
04/02/2025 09h03 - Atualizado há 20 horas

O preço do café torrado e moído teve uma alta significativa de 39,6% nos últimos 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao fim de 2024, o quilo do produto alcançou uma média de R$ 48,90, ultrapassando a barreira dos R$ 50 no início de fevereiro.

Diante desse aumento, uma alternativa de menor custo surgiu no mercado: o "cafake". O produto, que vem sendo comercializado como "sabor café", é feito a partir de cascas, folhas, palha e outros resíduos da planta, sem conter a semente que caracteriza o café original. Essa nova opção já gerou polêmica e preocupa a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).


Em entrevista à agência Reuters, o presidente da Abic, Celírio Inácio da Silva, classificou o "cafake" como uma "clara e evidente tentativa de burlar e enganar o consumidor". A entidade recebeu denúncias sobre a venda do produto na cidade de Bauru (SP), onde um item chamado Oficial do Brasil foi encontrado em supermercados com a inscrição "bebida sabor café tradicional" na embalagem.
 

Mesmo com a indicação na embalagem de que o produto não é café puro, a Abic alerta que o consumidor pode ser facilmente confundido devido às semelhanças na aparência da embalagem e ao preço mais acessível. O pacote de 500g do "cafake" pode ser encontrado por valores entre R$ 12 e R$ 14, enquanto o café moído tradicional custa cerca de R$ 30.

 

Fabricante nega 
 

A empresa Master Blends, fabricante do Oficial do Brasil, afirmou à Reuters que criou um "subproduto" do café e que isso está claramente descrito na embalagem. "Em momento algum falamos que é café. Criamos apenas um subproduto para atender uma classe que está sofrendo com o aumento dos preços", declarou a empresa em nota.
 

A companhia, com sede em Salto de Pirapora (SP), comparou a situação com outros produtos do mercado, como a substituição do leite condensado por "mistura láctea" e bombons com cobertura "sabor chocolate".
 

A Abic, no entanto, reforça que o caso já foi denunciado ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), alegando preocupações com a segurança alimentar e o impacto mercadológico da prática.

"É preciso ter autorização da Anvisa e comprovar a segurança alimentar", destacou Celírio Inácio. A Master Blends, por sua vez, afirmou que seu produto possui todas as certificações necessárias para comercialização.

 

Histórico do 'cafake' 

 

Não é a primeira vez que um produto "sabor café" chega ao mercado brasileiro. Desde 2022, a Abic tem identificado marcas que oferecem esse tipo de item. A marca Pingo Preto, por exemplo, já vendia o produto online a preços reduzidos, mas atualmente está indisponível na Amazon.
 

A Abic reforça que comercializações como essa vão na direção contrária de suas iniciativas para garantir a pureza do café no Brasil. No passado, a entidade lançou um selo de qualidade para evitar misturas de café moído com milho torrado e outros aditivos.
 

"O Brasil mostrou que café não é tudo igual e tirou esse ranço de que não bebemos bons cafés. Se não combatermos isso, as pessoas vão começar a beber esse 'cafake' e dizer que não gostam de café, o que pode impactar o consumo", afirmou Celírio Inácio.

 


Notícias Relacionadas »