31/08/2023 às 11h01min - Atualizada em 01/09/2023 às 11h01min

​Quebra de recordes climáticos alarma cientistas: tempo de agir para atenuar impactos

Fred Almeida
(Foto: Freepik)
Nos últimos meses, uma série de quatro recordes climáticos foi rompida em relação à temperatura, aquecimento dos oceanos e derretimento do gelo marinho na Antártida, deixando a comunidade científica em alerta. Esses eventos, ocorrendo em um intervalo de cerca de um mês, têm surpreendido os especialistas devido à velocidade sem precedentes com que estão se desenrolando.

Apesar da gravidade dos acontecimentos, os cientistas reforçam que ainda há margem para ação, a fim de mitigar, pelo menos parcialmente, as consequências desses eventos. Eles enfatizam que os piores cenários do aquecimento global já estão em andamento, embora ainda haja muito a ser aprendido sobre esses fenômenos.

"Não tenho conhecimento de nenhum período similar, em que todas as partes do clima estivessem sob recordes ou anormalidades (do tipo)", observa Thomas Smith, geógrafo ambiental da London School of Economics. Paulo Ceppi, do Imperial College London, acrescenta que a Terra já adentrou um "terreno desconhecido" devido ao aquecimento global proveniente da queima de combustíveis fósseis, agravado pelo fenômeno natural El Niño.

Dia mais quente já registrado 
Em 6 de julho, os termômetros atingiram um marco preocupante: a temperatura média global global atingiu 17,08°C, estabelecendo um novo recorde e superando a marca anterior de 2016. A Europa Meridional, partes da América do Norte e da China sentiram calor abrasador, com temperaturas oscilando entre 45°C e 50°C, resultando em incêndios devastadores e impactos à saúde humana.

As contínuas emissões de combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás, são identificadas como a raiz desse fenômeno alarmante. "Os humanos estão 100% por trás dessa tendência de alta", destaca Friederike Otto, pesquisadora do Imperial College London.

Junho Escaldante 
O mês de junho estabeleceu outro recorde inquietante: a média de temperatura global ultrapassou em 1,47°C a média do mês pré-industrial. Essa comparação é crucial, pois marca o período da Revolução Industrial, quando as emissões de gases do efeito estufa começaram a aumentar significativamente.

Enquanto é difícil prever os próximos dez anos em termos de temperatura, a certeza é de que o planeta não esfriará, conforme afirmação de Thomas Smith.

Calor nos Oceanos 
Registros históricos foram quebrados em maio, junho e julho quanto à temperatura oceânica global, se aproximando do recorde de 2016 para a maior temperatura da superfície marinha já registrada. Contudo, é o calor extremo no Atlântico Norte que mais preocupa os cientistas.

Temperaturas excepcionais foram observadas na costa oeste da Irlanda, entre 4°C e 5°C acima da média. A relação direta com o aquecimento global ainda está sendo investigada, mas é incontestável que os oceanos estão absorvendo grande parte do calor atmosférico. Esse fenômeno pode abalar os ecossistemas marinhos, responsáveis por metade do oxigênio do mundo.

Degelo na Antártida 
A área de gelo marinho na Antártida atingiu níveis alarmantes, alcançando o patamar mais baixo já registrado. Uma área dez vezes maior que o Reino Unido derreteu em comparação com a média entre 1981 e 2010. Os cientistas buscam compreender a interconexão entre esse evento e as mudanças climáticas, com fatores regionais e correntes oceânicas também em jogo.

Caroline Holmes, do projeto British Antarctic Survey, admite que nunca havia presenciado tais fenômenos em julho. Ela enfatiza que essa situação é uma evidência de que o ritmo das mudanças climáticas é pouco compreendido. Novos recordes climáticos são previstos ainda para este segundo semestre e início de 2024.

Embora não estejamos em um "colapso climático" sem controle, os cientistas afirmam que adentramos uma nova era desconhecida. Ainda há oportunidade para garantir um futuro viável para a humanidade, mas a ação é imperativa.

BBC Brasil. com reportagem adicional de  Mark Poynting e Becky Dale

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