24/01/2023 às 12h30min - Atualizada em 24/01/2023 às 13h21min

Ano começa com indicadores positivos para o mercado da suinocultura

Avaliações da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) sugerem que 2023 deve apresentar um início mais favorável para a suinocultura que o ano passado, tanto nos preços praticados no mercado doméstico, quanto nas exportações. Segundo a instituição, janeiro é sempre desafiante para a suinocultura, sendo um mês de queda na demanda interna e externa e com estoques remanescentes do fim do ano anterior que acabam pressionando para baixo os preços pagos ao produtor.

O ano de 2022 fechou com volume exportado de carne suína in natura da ordem de 1.013.739 toneladas, apenas 1.436 toneladas a menos que o ano anterior (-0,14%). Em receitas a redução foi de 2,7% (-US$ 67,5 milhões), com 2022 fechando em US$ 2,407 bilhões, contra US$ 2,475 bilhões em 2021. A China, que já representou mais de 55% dos embarques, terminou 2022 com pouco mais de 43% do volume exportado.

Embora 2022 tenha sido o pior ano em volumes embarcados para China desde 2020, se analisarmos somente os últimos 5 meses (de agosto a dezembro/22), esta sequência foi a melhor em exportações brasileiras de carne suína in natura para o gigante asiático em um final de ano, totalizando quase 230 mil toneladas. Além disso, desde agosto/22, o preço médio em dólar da carne vendida para a China tem crescido mensalmente, sendo que o valor de dezembro passado (US$ 2.687/ton) é o maior desde junho de 2021 e é 26,5% maior que dezembro de 2021 (US$ 2.124/ton). Estes são fortes indicativos de que a China tem retomado consistentemente as compras do Brasil, devendo se manter em alta por mais alguns meses.

Com relação a outros compradores da nossa carne suína, o ano de 2022 foi marcado pelo crescimento de alguns destinos importantes, com destaque para Filipinas, Singapura e Tailândia, além da habilitação de plantas para dois importantes mercados: México e Canadá que, por enquanto, não figuram como compradores significativos de nossa carne, mas são importantes players no mercado mundial, com bom potencial para o futuro, além de chancelarem a sanidade do rebanho brasileiro.

Quanto ao mercado doméstico, é preciso entender os movimentos sazonais e as tendências de crescimento da produção. Ainda não há números finais de produção do ano de 2022, mas dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes ao segundo e terceiro trimestre do ano passado já indicavam redução significativa no ritmo de crescimento da produção e disponibilidade interna de carne suína. Isso determinou o crescimento do preço do porco, com pequenos recuos, desde março do ano passado até dezembro.

Conforme comentado anteriormente, a queda da cotação do suíno no início do ano é previsível. É possível perceber o recuo da cotação das carcaças em janeiro/23 (média até dia 13/01/23). Porém, esta queda de preço foi bem menor que aquela observada no mesmo período do ano passado. Embora tenha havido queda nas cotações das carcaças em São Paulo, na virada dos anos 2021/22 e 2022/23, neste último período a queda foi bem mais suave que no período anterior, com alguns dias de alta em dezembro/22.


Estes sinais do mercado doméstico e de exportação indicam que 2023, do ponto de vista de valorização do suíno, deve ser um ano de melhor ajuste entre oferta e demanda. Fica o questionamento quanto ao custo de produção, se permitirá margens positivas suficientes para recuperar ao menos parte dos prejuízos da grave crise que assolou o setor nos últimos anos. É possível visualizar que o milho se manteve em 2022 em patamares de preço inferiores ao ano anterior. Porém, o farelo de soja foi a matéria-prima que mais pesou na elevação do custo da ração, representada pelo mix (74% de milho e 26% de farelo de soja).

Se analisarmos a relação de troca do kg do suíno vivo (MG) com o kg dos principais insumos, quanto menor o valor pior para o suinocultor, concluímos que fevereiro/22 foi de fato o fundo do poço, havendo uma recuperação paulatina do poder de compra ao longo do ano e ficando relativamente estável nos últimos meses.

É possível concluir que o preço do suíno (vivo ou carcaça) já não é o principal fator de preocupação, mas sim os custos dos principais insumos (milho e farelo de soja), pois a relação de troca não subiu na mesma proporção que o preço do suíno. Se por um lado temos um horizonte promissor em relação ao ajuste da oferta de carne suína à demanda, por outro ainda não se percebe sinais de arrefecimento dos custos no curto prazo.

O último levantamento da safra 2022/23 publicado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ainda prevê produção recorde de soja e milho, mesmo com alguns problemas climáticos em determinadas regiões produtoras. Com relação ao milho, o estoque de passagem previsto para 31/01/23 de 5,28 milhões de toneladas é relativamente baixo, considerando que a primeira safra de milho (verão) a ser colhida principalmente entre fevereiro e março será ao redor de 26,4 milhões de toneladas, em torno de 21% de todo milho a ser produzido na safra 2022/23, os demais 79% (quase 100 milhões de toneladas) esperados para a segunda safra, ainda não plantada e que deverá ser colhida no meio do ano, principalmente na região centro-oeste e no Paraná.

Este estoque de passagem de pouco mais de 5 milhões de toneladas baseia-se na projeção de exportações do período (de fev/22 a jan/23) da ordem de 43,5 milhões de toneladas, porém, no acumulado de janeiro/23, com dados até 13/01, já foi exportada uma média de 295 mil toneladas de milho por dia útil, totalizando 2,95 milhões de toneladas até dia 13/01.

Considerando a média embarcada na última semana, o mês de janeiro/23 ultrapassará os 5,5 milhões de toneladas, acumulando um total de mais de 46 milhões de toneladas no período considerado entre fev/22 e jan/23. Confirmando-se este embarque, o estoque de passagem será inferior a 5 milhões de toneladas.

Avaliação do presidente da ABCS

Para o presidente da ABCS, Marcelo Lopes, previsões sempre estão sujeitas a erros e correções. Ele, contudo, reforçou que a perspectiva de momento é animadora para o setor da suinocultura brasileira.

“Mas é preciso acompanhar fatores que interferem na demanda de nossa carne suína e, principalmente, nos custos de produção, tais como: produção e exportação de carne suína da União Europeia (hoje em baixa), movimentos do mercado chinês (velocidade de recuperação do rebanho que foi reduzido ano passado), câmbio influenciando nossas exportações de carne e grãos, clima brasileiro e realização da primeira e segunda safra de milho, demanda mundial de grãos e situação de outros grandes exportadores de commodities (Argentina e Ucrânia), crise mundial anunciada como consequência da pandemia e da guerra da Ucrânia e conjuntura econômica brasileira”, explica Lopes.

Da Redação, com Canal Rural

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