Mais Arrobas com boa prenhez e desenvolvimento fetal

João Menezes
20/08/2025 09h41 - Atualizado há 21 horas
Mais Arrobas com boa prenhez e desenvolvimento fetal
Foto: João Menezes

A eficiência reprodutiva sempre foi um dos maiores gargalos da pecuária de corte no Brasil. A capacidade de uma vaca conceber, manter a gestação e parir um bezerro saudável influencia diretamente a produtividade da fazenda. Quando falamos em produzir mais arrobas, não estamos tratando apenas do ganho de peso dos animais em recria ou engorda, mas também da base do sistema: a taxa de prenhez e o desenvolvimento fetal. Cada dia de atraso em uma concepção representa custos invisíveis, pois aumenta o intervalo entre partos, reduz a produção de bezerros e compromete a eficiência global da propriedade.

Diversos fatores influenciam a taxa de prenhez. O primeiro deles é o estado nutricional das matrizes. Pesquisas demonstram que vacas que entram na estação de monta com escore corporal adequado (entre 3,0 e 3,5 numa escala de 1 a 5) apresentam taxas de prenhez até 20 pontos percentuais superiores em comparação a vacas magras. Isso se deve à relação direta entre balanço energético positivo, ciclicidade ovariana e receptividade à inseminação ou cobertura. Além disso, a oferta de proteína e minerais durante a seca é fundamental para manter a condição corporal das matrizes. Deficiências em fósforo, por exemplo, estão associadas à anestro prolongado e redução da taxa de concepção.

Outro aspecto determinante é a qualidade do sêmen e o manejo reprodutivo adotado. Tecnologias como a inseminação artificial em tempo fixo (IATF) têm avançado muito na pecuária nacional. Há comprovações que a utilização de protocolos de sincronização permite não apenas maior taxa de concepção inicial, mas também uniformidade de lotes de bezerros, o que facilita o manejo nutricional e sanitário. Ao mesmo tempo, o uso de touros geneticamente avaliados por Programa de Melhoramento Genético garantem a transmissão de características desejáveis, desde fertilidade até ganho de peso.

Após a concepção, o foco passa a ser o desenvolvimento fetal. Estudos apontam que o terço final da gestação é o período em que ocorre o maior crescimento do feto e, portanto, a exigência nutricional da vaca aumenta significativamente. Se a matriz estiver subalimentada, haverá maior risco de abortos, natimortos ou bezerros leves ao nascimento. Bezerros com baixo peso ao nascer apresentam menor vigor, demoram mais a mamar e têm desvantagem no ganho de peso até a desmama. Portanto, a nutrição materna adequada garante não só uma gestação bem-sucedida, mas também a base para um bezerro mais pesado e produtivo.

Nesse contexto, a suplementação estratégica torna-se essencial. Programas nutricionais que utilizam proteinados, suplementos minerais e, em determinadas situações, energia adicional, são fundamentais para manter as vacas em boa condição corporal durante toda a gestação. A importância de monitorar o fornecimento e a ingestão real desses suplementos, evitando variações que possam comprometer o desempenho reprodutivo. Além disso, o fornecimento de microminerais como selênio e zinco está relacionado a maior viabilidade embrionária e melhor imunidade do bezerro ao nascimento.

Outro ponto muitas vezes negligenciado é o estresse térmico, pois vacas submetidas a altas temperaturas e radiação solar intensa apresentam redução da taxa de concepção e maior mortalidade embrionária precoce. Estratégias como o sombreamento natural com árvores ou o uso de sombrites em áreas de pasto intensivo podem aumentar a taxa de prenhez em regiões tropicais.

O resultado de uma boa taxa de prenhez e de um desenvolvimento fetal adequado não se limita ao nascimento de bezerros mais fortes. Ele se traduz em mais arrobas por hectare ao longo de toda a cadeia produtiva. Uma vaca que emprenha cedo, mantém a gestação sem problemas e desmama um bezerro pesado contribui para a sustentabilidade econômica e ambiental da propriedade. Afinal, a eficiência reprodutiva reduz o número de vacas improdutivas, melhora o aproveitamento dos recursos e aumenta a lotação efetiva das áreas de pastagem.

Diferentes condições nutricionais influenciam a taxa de prenhez em vacas de corte (Tabela 1). Normalmente se priorizam as melhores pastagens para recria  e engorda, porém a produção de bezerros baratos, bem desenvolvidos demandam pastagens de qualidade para as vacas na maior parte do tempo, em especial algumas categorias como as primíparas. Animais excessivamente gordos podem ter sua prenhez  negativamente afetada e além do dispêndio de dinheiro e recursos, pode não resultar em resultados favoráveis.

Tabela 1 - Dados médios de diferentes condições nutricionais sobre a taxa de prenhez em vacas de corte.

Fonte: Adaptado de Embrapa Gado de Corte (2021) e UFV (2020).

Garantir boa prenhez e desenvolvimento fetal é uma estratégia central para quem deseja produzir mais arrobas. Ao integrar manejo nutricional, genético e sanitário com atenção ao bem-estar animal, o pecuarista não apenas aumenta a produtividade, mas também consolida um sistema mais eficiente e sustentável. No fim, cada bezerro nascido forte e saudável representa não só mais um animal no rebanho, mas o reflexo direto de uma pecuária moderna e bem manejada.


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