Mais Arrobas com diversificação forrageira

João Menezes
30/07/2025 09h41 - Atualizado há 1 dia
Mais Arrobas com diversificação forrageira
Foto: reprodução

Encontrar a forrageira perfeita, aquela capaz de solucionar todos os desafios da propriedade, desde solo ácido, passando por alto valor nutritivo até vigor de rebrota e produtividade recorde é um desejo comum, mas impossível. Não existe uma planta milagrosa, e sim diversas opções já desenvolvidas, estudadas e validadas por instituições como a Embrapa, cada uma com atributos específicos para atender variados contextos de produção pecuária no Brasil. Neste cenário, adotar diferentes cultivares em pastos distintos da fazenda não apenas é uma estratégia inteligente, mas também acrescenta pouco aos custos operacionais e traz ganhos expressivos em desempenho e estabilidade do sistema.

Ao analisar as demandas de propriedades rentáveis e eficientes, fica evidente que buscar soluções inovadoras não passa necessariamente por grandes investimentos ou tecnologias mirabolantes, mas sim por um planejamento forrageiro fundamentado no uso combinado de cultivares. A diversificação forrageira significa alocar, em áreas separadas, pelo menos três tipos de pastos com finalidades distintas: um cultivar de rápido crescimento e alta produção no período das águas, outro que mantenha o valor nutritivo na seca e um terceiro com tolerância maior a erros no manejo, capaz de sustentar o gado sem grandes riscos mesmo em situações de lotação elevada com pastejo muito severo.

Essa abordagem apresenta benefícios concretos. Em anos de adversidades climáticas, pragas específicas ou variações de manejo, a propriedade não fica refém dos limites de uma única forrageira. Em diferentes regiões brasileiras, ao diversificar cultivares de braquiárias, panicuns e capins adaptados às condições locais, técnicos e produtores obtêm mais produtividade, estabilidade ao longo do ano e melhor aproveitamento das áreas da fazenda, reduzindo a necessidade de reformas frequentes de pastos. Além disso, cultivares lançadas pela Embrapa demonstraram, em avaliações de campo, capacidade de manter produção mesmo sob estresses como estiagem ou lotação excessiva, atestando seu valor não apenas produtivo, mas estratégico para a eficiência do negócio pecuário.

Estratégias de diversificação incluem, por exemplo, o uso do capim Xaraés (Brachiaria brizantha cv. Xaraés), indicado para solos com menor fertilidade, o BRS Integra, com alta produtividade inclusive no inverno e melhor relação folha/caule, e o Panicum maximum BRS Tamani, bastante eficiente na seca e bem adaptado ao semiárido. Outras opções como o Panicum maximum BRS Zuri potencializam a produção no verão, enquanto pastos como as brizanthas Marandu, Piatã e Ipyporã se destacam perla perda mais lenta do valor nutritivo e podem ser usadas como pastejo diferido na seca. O Andropogon gayanus tem boa resistência à seca. Isso possibilita um calendário forrageiro mais robusto, com uso racional das áreas e resultados consistentes em termos de arrobas produzidas por hectare (Tabela 1).

Tabela 1 – Diferentes cultivares para demandas sazonais, tipos de solo e manejo.

Optar por múltiplos cultivares não representa um aumento expressivo nos custos, pois a aquisição de sementes certificadas e o manejo adequado tendem a ser diluídos frente ao ganho de produtividade, redução nas perdas em períodos críticos e maior longevidade dos pastos. O retorno é percebido não apenas no aumento do ganho de peso dos animais, mas também na segurança operacional da fazenda, que passa a tolerar melhor os imprevistos típicos da pecuária brasileira.

Outro ponto que merece atenção é o impacto positivo da diversificação forrageira sobre a saúde do solo e a dinâmica de pragas e doenças. Ao alternar espécies e cultivares em áreas distintas, rompe-se o ciclo de patógenos e inibe-se a multiplicação de pragas específicas de determinadas gramíneas. Essa heterogeneidade forrageira também favorece melhor cobertura do solo ao longo do ano, reduzindo erosão, melhorando infiltração de água e promovendo ambiente mais favorável para o desenvolvimento do capim e das raízes. Esses benefícios, acabam se refletindo em maior resiliência dos sistemas produtivos, especialmente em anos de maior estresse climático.

Além disso, a escolha criteriosa de cultivares permite que o produtor otimize a logística do pastejo, adaptando a oferta forrageira de acordo com as categorias animais, níveis de exigência nutricional e objetivos do sistema (cria, recria, engorda). Pastos com capins de maior valor nutritivo e rápida rebrota podem ser destinados a animais em crescimento ou terminação, enquanto áreas de vigor mais moderado, porém de alta resistência, servem como suporte em épocas críticas, evitando superpastejo e degradação das pastagens. Essa flexibilidade operacional garante eficiência não apenas na produção de arrobas, mas também na conservação dos recursos naturais da fazenda ao longo do tempo.

A eficiência está ao alcance de quem abandona a busca pelo “capim milagroso” e aposta em uma combinação inteligente, recomendada e validada. O resultado são mais arrobas, menos dor de cabeça e rentabilidade garantida durante todo o ano.

 


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