Mais Arrobas renovando ou recuperando pastagens degradadas

João Menezes
18/06/2025 10h43 - Atualizado há 7 horas
Mais Arrobas renovando ou recuperando pastagens degradadas
Foto: Arquivo Pessoal

A eficiência da pecuária brasileira está intrinsecamente associada à qualidade das pastagens, que constituem a base alimentar dos sistemas de produção de carne e leite em regimes a pasto. Pastagens degradadas representam o maior entrave para a intensificação da pecuária, limitando a capacidade de suporte (número de animais por hectare) e comprometendo indicadores zootécnicos, como ganho médio diário (GMD) e produtividade por área. Mesmo com avanços genéticos e melhorias no manejo animal, a rentabilidade permanece restrita quando a oferta de forragem é insuficiente ou de baixa qualidade nutricional. Além disso, os custos associados à recuperação ou reforma de áreas degradadas podem desestimular os produtores, levando ao arrendamento de terras para culturas agrícolas, como soja, milho ou eucalipto, que oferecem retornos mais imediatos. Assim, a implantação, renovação e manejo adequado de pastagens, aliados à recuperação da fertilidade do solo, são fundamentais para garantir a sustentabilidade e a competitividade da pecuária.

A degradação das pastagens é um problema generalizado no Brasil, afetando entre 50% e 70% das áreas destinadas à pecuária, dependendo da região e do sistema de produção. Esse fenômeno decorre de práticas inadequadas, como superpastejo contínuo, ausência de adubação, manejo deficiente e falhas no processo de formação das pastagens. Essas condições resultam na compactação do solo, na redução da cobertura vegetal, na proliferação de plantas invasoras e na diminuição da disponibilidade de forragem de qualidade. Consequentemente, a nutrição do rebanho é comprometida, levando a menores taxas de ganho de peso, atrasos no ciclo de abate e aumento dos custos de produção, especialmente pela necessidade de suplementação intensiva para compensar as deficiências da pastagem.

A diferença entre sistemas pecuários eficientes e aqueles com baixa produtividade reside no conhecimento técnico e na adoção de práticas que otimizem o uso das pastagens e suplementos. Pastagens bem manejadas, com espécies forrageiras adaptadas ao clima e ao solo, fornecem nutrientes essenciais, como proteína bruta, energia metabolizável e minerais, em níveis adequados para atender às exigências nutricionais do rebanho. A recuperação de áreas degradadas, combinada com manejo racional e suplementação estratégica nos períodos críticos (como a seca), potencializa o desempenho animal, elevando a produtividade por hectare e a rentabilidade do sistema (Tabela 1).

Tabela 1 – Valores de produtividade (UA/ha, animal/ha, kg PV/ha/ano) e ganho médio diário (GMD) em sistemas de recria e engorda de bovinos em pastagens no Brasil, com diferentes tecnologias.

A recuperação de pastagens degradadas pode ser realizada por meio de diversas estratégias, incluindo o ajuste da taxa de lotação à capacidade de suporte do pasto, o controle de plantas invasoras e pragas, a correção da acidez do solo (com calcário) e a adubação (com nitrogênio, fósforo e potássio, conforme análise de solo). As pastagens recuperadas podem dobrar o desempenho individual dos animais (em termos de GMD), aumentar a capacidade de suporte e elevar a produtividade da terra várias vezes, quando comparadas a áreas degradadas. Esses ganhos resultam em ciclos produtivos mais curtos, com redução no tempo de recria e engorda, o que acelera o giro de capital e melhora a liquidez do sistema.

O uso estratégico de suplementos nutricionais é uma ferramenta indispensável, mas não substitui a necessidade de uma base forrageira de qualidade. Suplementos, como proteinados, energéticos ou minerais, corrigem deficiências pontuais na dieta e maximizam o desempenho animal, especialmente em períodos de baixa oferta ou qualidade de forragem. No entanto, seu impacto é limitado em sistemas com pastagens severamente degradadas, onde a forragem representa de 70% a 95% da dieta dos animais. Assim, investimentos em manejo de pastagens, como rotação de piquetes, controle de altura de pastejo e reposição de nutrientes no solo, são essenciais para reduzir a dependência de suplementação e os custos associados.

A modernização da pecuária brasileira passa, obrigatoriamente, pelo aumento da eficiência produtiva, que se traduz em maior produção de arrobas por hectare, com menor custo por unidade produzida e maior retorno econômico. A recuperação de pastagens degradadas é a principal estratégia para alcançar esse objetivo sem a necessidade de abertura de novas áreas, contribuindo para a sustentabilidade ambiental e a otimização do uso da terra. Além disso, sistemas intensificados com pastagens bem manejadas reduzem a pressão por desmatamento e minimizam a emissão de gases de efeito estufa por unidade de produto.

Para viabilizar a recuperação de pastagens, é crucial realizar um diagnóstico detalhado da qualidade do solo e da pastagem, identificando limitações como acidez, deficiência de nutrientes ou presença de pragas. Com base nesse diagnóstico, o produtor pode planejar intervenções específicas, como aplicação de corretivos, escolha de cultivares forrageiras adaptadas (por exemplo, Brachiaria spp. ou Panicum maximum) e adoção de sistemas de pastejo rotacionado ou diferido. A integração de tecnologias, como o uso de drones para monitoramento de pastagens ou análise de dados para otimizar a taxa de lotação, também tem se mostrado eficaz na gestão de sistemas intensificados.

Em síntese, a pecuária brasileira enfrenta o desafio de superar a degradação de pastagens para alcançar maior eficiência e competitividade. Investir no diagnóstico preciso da qualidade das pastagens, adotar práticas de manejo sustentável e utilizar suplementos de forma estratégica são medidas indispensáveis para transformar áreas degradadas em sistemas produtivos. O conhecimento técnico, aliado à gestão criteriosa dos recursos forrageiros, é o diferencial que separa a estagnação do avanço na produção de carne e leite. Com planejamento e adoção de tecnologias, é possível elevar a produtividade, reduzir custos e garantir a viabilidade econômica da pecuária.


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