Todo ano, sem exceção, chega o período de seca, ora mais prolongado e severo, ora menos intenso, mas sempre impactando de forma decisiva a produção na pecuária. Essa fase representa um grande desafio para quem busca maximizar resultados de forma eficiente e rentável. A escassez e a baixa qualidade da forragem disponível afetam diretamente o desempenho dos animais, comprometem a condição das pastagens e, se não bem manejada, podem acarretar perdas econômicas significativas, incluindo a perda de peso dos bovinos e, nos casos mais graves, até a mortalidade.
Por isso, o planejamento nutricional para o período seco é absolutamente essencial e deve ser tratado como uma prioridade estratégica no manejo do rebanho. O simples fato de saber que a seca vai chegar não é suficiente. É fundamental agir com antecedência, estabelecendo um plano alimentar que contemple as reais necessidades dos animais, assim como as condições peculiares da propriedade. O pecuarista deve analisar, com base no conhecimento técnico, qual a melhor estratégia, que pode incluir o fornecimento de volumosos produzidos nas águas, suplementação proteica, mineral ou uma combinação adequada dos insumos. Preparar-se antecipadamente é sinônimo de segurança zootécnica e econômica, garantindo que os animais terão acesso a alimento de qualidade durante a escassez, que as pastagens serão preservadas e que a produtividade não sofrerá queda.
Neste cenário, a escolha criteriosa das fontes de nutrientes ganha destaque. A proteína bruta disponível nas forragens naturais no período seco costuma ser insuficiente para atender as exigências dos bovinos, principalmente em sistemas de produção que visam ao ganho de peso eficiente. Daí a importância da suplementação proteica, que fornece a quantidade essencial para o correto funcionamento do metabolismo animal, a manutenção da massa muscular e o desenvolvimento adequado dos tecidos. Além disso, a suplementação mineral é fundamental para corrigir deficiências comuns, como baixos teores de fósforo, cálcio, cobre, zinco e outros minerais que são essenciais para funções fisiológicas vitais e o equilíbrio metabólico.
A aplicação da suplementação deve ser pautada no volume e na qualidade da forragem disponível e, principalmente, nos objetivos produtivos da propriedade. Por exemplo, em áreas onde a pastagem apresenta menos de 7% de proteína bruta, o uso do suplemento proteico é imprescindível para garantir ganhos de peso mínimos, prevenindo a degradação da condição corporal dos animais. Já a complementação energética deve ser considerada quando a oferta de carboidratos fermentáveis é reduzida pela baixa produtividade da pastagem seca. A energia fornecida complementarmente é vital para fornecer combustível metabólico que sustente as funções biológicas e os ganhos em peso. A combinação estratégica dos dois tipos de suplemento, proteico e energético, pode ser determinante para manter a eficiência alimentar mesmo em períodos críticos.
Outra estratégia eficiente é o fornecimento de volumosos produzidos durante a estação das águas, como silagens e fenos. Essa prática é fundamental para evitar o sobrepastejo das áreas remanescentes, preservando a capacidade produtiva das pastagens nativas e cultivadas para o próximo ciclo, além de garantir a oferta contínua de alimento durante a seca. A correta estocagem e distribuição desses volumosos são tão importantes quanto a escolha e manejo do suplemento, e envolvem conhecimento técnico e atenção aos detalhes operacionais.
Para que a suplementação seja realmente eficaz, é imprescindível o monitoramento constante do desempenho dos animais e a avaliação da eficiência alimentar. Ajustes nas doses de suplementação podem ser necessários, pois tanto a subdosagem quanto a superdosagem impactam negativamente no resultado final, seja pelo desperdício de insumos ou pela subutilização do potencial produtivo dos bovinos. O objetivo é encontrar o equilíbrio ideal que maximize o retorno econômico e o ganho real em arrobas produzidas por hectare, ou por cabeça.
Os ganhos obtidos por meio da suplementação estratégica no período seco transcendem o ganho imediato de peso. Eles asseguram a rentabilidade da propriedade ao longo do ano, viabilizando o uso racional das pastagens e garantindo a estabilidade produtiva do sistema como um todo. Animais bem nutridos mantêm melhor condição corporal, estão mais resistentes a doenças e respondem melhor aos próximos ciclos produtivos, nas águas e o funcionamento das estratégias de manejo, o que contribui para uma pecuária mais eficiente e rentável.
A prática da suplementação estratégica deve sempre estar ancorada em conhecimento técnico atualizado e em pesquisas confiáveis de instituições renomadas como a Embrapa, universidades e centros de excelência em zootecnia. Essas fontes trazem dados e recomendações baseados em experimentos científicos e experiências práticas que fortalecem a tomada de decisão no campo, minimizando riscos e otimizando resultados (Tabela 1).
Tabela 1 – Estratégias de suplementação na seca, adaptado Embrapa Gado de Corte.
Portanto, uma pecuária eficiente e rentável passa necessariamente pelo planejamento antecipado da nutrição no período seco. Oferecer os suplementos corretos, na quantidade adequada, respeitando os objetivos produtivos da propriedade, não é um custo, mas um investimento com retorno certo. Agindo assim, o pecuarista protege seus ativos — o rebanho e as pastagens — e garante que a produção de arrobas continue crescendo mesmo nas condições mais adversas.