Mais Arrobas, menos micotoxinas

João Menezes
11/06/2025 09h42 - Atualizado há 1 dia
Mais Arrobas, menos micotoxinas
Foto: reprodução

O desempenho dos bovinos de corte e leite tem evoluído significativamente com avanços em genética, nutrição e manejo. Estratégias como a formulação de dietas mais equilibradas, o uso de aditivos nutricionais, a inclusão de minerais orgânicos e uma maior atenção à saúde intestinal têm contribuído para melhorar os ganhos de peso e a eficiência alimentar. No entanto, um fator silencioso e frequentemente negligenciado pode comprometer esses resultados: a presença de micotoxinas nos alimentos fornecidos aos animais.

As micotoxinas são metabólitos tóxicos produzidos por fungos que se desenvolvem em alimentos como pastagens, silagens, grãos e suplementos mal armazenados ou manipulados. Mesmo em níveis subclínicos, essas toxinas podem impactar negativamente a eficiência alimentar, afetar o sistema imunológico, prejudicar a fertilidade e, em casos extremos, levar à morte dos animais. Em sistemas de produção que visam maximizar a produção de arrobas por hectare e obter maior retorno financeiro, ignorar essa ameaça representa um erro estratégico que pode ter consequências graves no desempenho zootécnico e na rentabilidade.

Para manejar adequadamente essa questão, é essencial entender a verdadeira qualidade dos alimentos ofertados ao rebanho. Isso inclui tanto os suplementos industriais quanto as pastagens, que frequentemente são vistas como “seguras”, mas que podem estar contaminadas por fungos como *Fusarium*, *Aspergillus* e *Penicillium*. Essas contaminações são especialmente comuns em períodos de alta umidade ou estresse climático, o que favorece o desenvolvimento de colônias fúngicas. Uma análise técnica detalhada dos alimentos e seus componentes é indispensável para identificar a presença de micotoxinas e adotar medidas corretivas.

O uso de adsorventes de micotoxinas tem se consolidado como uma ferramenta eficaz na mitigação dos efeitos tóxicos desses compostos. Esses aditivos atuam no trato digestivo dos animais, ligando-se às toxinas e impedindo sua absorção pelo organismo. No mercado, existem adsorventes específicos para determinados grupos de micotoxinas, como aflatoxinas, e outros de amplo espectro, que neutralizam várias toxinas simultaneamente. A escolha do tipo de adsorvente deve ser baseada em diagnósticos laboratoriais que avaliem o grau de contaminação dos alimentos. Esse procedimento permite a adoção de estratégias nutricionais mais assertivas, reduzindo os riscos e otimizando os resultados.

Além da utilização de adsorventes, o manejo preventivo desempenha um papel central na redução da contaminação por micotoxinas. Diversas práticas podem ser implementadas desde o campo até o fornecimento do alimento, incluindo:

  • Garantir colheitas e armazenagem adequadas de silagem e grãos, respeitando parâmetros de umidade e compactação;
  • Realizar inspeções visuais e sensoriais frequentes nos alimentos, verificando sinais como odor, aparência e textura;
  • Selecionar fornecedores de suplementos que ofereçam garantia de qualidade e especificações técnicas detalhadas;
  • Investir na manutenção de silos e locais de armazenagem, evitando exposição a fatores que favoreçam o desenvolvimento de fungos.

O impacto da contaminação por micotoxinas no ganho de peso de bovinos jovens em crescimento é elevado quando se compara animais que receberam ração contaminada (com e sem adsorvente) com grupo controle não contaminado (Tabela 1).

Tabela 1. Efeito da contaminação por micotoxinas e uso de adsorvente sobre o ganho médio diário (GMD) de bovinos em crescimento (Adaptado de Rabelo et al., 2020.

Quando há uma contaminação, mesmo que seja subclínica, pode reduzir significativamente a produtividade. E reforça que, embora o uso de adsorventes não elimine completamente o impacto, ele reduz consideravelmente as perdas, tornando o sistema mais eficiente.

A gestão da qualidade dos alimentos deve estar no centro das decisões nutricionais de técnicos e pecuaristas. Isso envolve análises periódicas para detecção de micotoxinas, seleção cuidadosa de fornecedores, manejo correto das pastagens e volumosos e investimentos em tecnologias de mitigação. Uma arroba aparentemente mais barata pode trazer prejuízos ocultos se o alimento estiver contaminado por toxinas invisíveis.

Em tempos de custos elevados e margens reduzidas, cada detalhe conta para maximizar a eficiência e rentabilidade. Garantir que o ganho de peso seja oriundo de alimentos seguros, nutritivos e bem manejados é mais do que uma precaução: é uma estratégia inteligente e indispensável para sistemas pecuários eficientes e rentáveis. Afinal, o sucesso começa pela boca do bovino.


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