Mais Arrobas sob alta taxa de lotação

João Menezes
04/06/2025 09h00 - Atualizado há 1 dia
Mais Arrobas sob alta taxa de lotação
Foto: João Menezes

As gramíneas tropicais são fundamentais na pecuária de corte e leite em regiões quentes, sendo responsáveis por sustentar grande parte da produção animal em pastagem no Brasil e em outras áreas tropicais. Espécies como Brachiaria brizantha, Panicum maximum (capim-tanzânia, capim-mombaça), Andropogon gayanus e Cynodon spp. (capim-tifton) destacam-se pela eficiência na conversão de luz solar em biomassa através da fotossíntese C4, apresentando altos índices de crescimento, principalmente quando há condições ideais de temperatura, radiação solar, umidade e fertilidade do solo.

O potencial produtivo dessas gramíneas é impressionante: em sistemas bem manejados, pastagens de Panicum maximum podem alcançar de 25 a 35 toneladas de matéria seca (MS) por hectare ao ano, enquanto Brachiaria brizantha pode atingir de 15 a 25 t MS/ha/ano, dependendo do manejo e da fertilidade. Já pastagens degradadas dificilmente ultrapassam de 3 a 7 t MS/ha/ano, evidenciando o impacto direto de práticas de manejo e adubação na produtividade.

A eficiência fotossintética das gramíneas tropicais é superior às espécies de clima temperado, o que possibilita maior acúmulo de biomassa durante os períodos de atividade de crescimento. Isso resulta em maior oferta de forragem, permitindo taxas de lotação mais altas e, consequentemente, um aumento na produção de carne ou leite por área.

A resposta dessas forrageiras à adubação é significativa, especialmente quando combinada com correção da acidez do solo e reposição de nutrientes essenciais. Solos tropicais têm baixa fertilidade natural, tornando indispensável o uso de calcário para correção do pH e fertilizantes para suprir nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K). Aplicações entre 100 e 200 kg/ha/ano de N podem elevar a produção de matéria seca em até 80%, além de melhorar o teor de proteína bruta da forragem e sua digestibilidade, desde que o manejo seja adequado. O fósforo, frequentemente limitante em solos tropicais, é essencial para o desenvolvimento radicular e o perfilhamento, influenciando diretamente a persistência e produtividade do pasto. Já o potássio contribui para a tolerância à seca e ao vigor das plantas.

A adubação é mais eficaz quando combinada com práticas de manejo como o pastejo rotacionado, que oferece períodos de descanso para recuperação da forragem e previne o sobrepastejo, preservando tanto a estrutura da planta quanto a capacidade de rebrota das gramíneas.

A intensificação no manejo das pastagens, com a utilização de adubação, correção de solo, escolha de espécies e cultivares adaptadas, e adoção de sistemas de pastejo rotacionado, permite aumentar consideravelmente a taxa de lotação das áreas. Enquanto pastagens extensivas e degradadas sustentam, em média, apenas 0,5 a 1,0 unidade animal (UA) por hectare, sistemas intensivos podem atingir entre 3 e 6 UA/ha, com ganhos médios diários (GMD) de 0,8 a 1,2 kg/animal/dia e produção anual de carne superior a 1.200 kg/ha (Tabela 1).

Tabela 1 - Produção Animal em Pastagens Tropicais (Adaptado de Barbero et al. (2015).

Esses dados demonstram que, enquanto ganhos genéticos e reprodutivos podem elevar a produtividade individual entre 20% e 50%, a intensificação do manejo das pastagens pode multiplicar a produção de carne por hectare em até dez vezes, sendo a estratégia mais eficiente para aumentar a rentabilidade da pecuária.

A qualidade da forragem influencia diretamente o desempenho animal. Monitorar parâmetros como teor de proteína bruta, fibra em detergente neutro (FDN), digestibilidade in vitro da matéria seca e relação folha/colmo é essencial para assegurar que a dieta fornecida ao rebanho atenda às suas necessidades nutricionais. Forragens jovens, provenientes de pastagens bem manejadas, apresentam maior valor nutritivo, promovendo maior consumo voluntário e melhor conversão alimentar.

Manter a altura de entrada e saída dos animais no pasto é crucial. Para Brachiaria brizantha, recomenda-se entrada com altura entre 35 e 40 cm e saída entre 20 e 25 cm; para Panicum maximum, entrada com 70 a 80 cm e saída entre 30 e 40 cm. Esse manejo favorece a rebrota vigorosa e a longevidade do pasto.

Embora a suplementação mineral e proteica seja importante em algumas fases do ano ou categorias de animais, a prioridade deve ser a maximização da oferta de forragem de alta qualidade durante os períodos favoráveis. Um pasto bem manejado pode suprir grande parte das necessidades nutricionais do rebanho, diminuindo custos associados à dependência de insumos externos. A suplementação deve ser estratégica, usada especialmente em períodos de menor qualidade ou oferta de forragem, como na seca, para corrigir deficiências e manter o desempenho animal.

Tecnologias de monitoramento, como imagens de satélite para avaliação da biomassa, sensores de umidade do solo, drones e softwares de gestão, permitem maior precisão no manejo, facilitando decisões baseadas em dados confiáveis. Análises periódicas de solo e forragem são fundamentais para ajustar adubações e correções, garantindo a produtividade contínua da pastagem.

Para o pecuarista, a pastagem deve ser vista como o principal ativo da propriedade. Investir em sua qualidade, por meio de práticas integradas de correção e adubação, escolha de forrageiras adaptadas, manejo rotacionado e monitoramento constante, é o caminho mais seguro para maximizar a produção de arrobas por hectare. O treinamento da equipe para identificar sinais de degradação, combinado com o uso de tecnologias, amplia ainda mais os resultados.

A intensificação eficiente da produção animal em pastagens tropicais, com altas taxas de lotação, é a estratégia mais eficaz para aumentar tanto a produtividade quanto a rentabilidade, transformando cada hectare em uma verdadeira fábrica de carne. O sucesso na pecuária está diretamente ligado ao conhecimento técnico, à observação criteriosa e ao manejo eficiente das pastagens.

 


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