Em qualquer sistema de produção bovina, a alimentação representa um dos principais componentes do custo operacional, especialmente durante a seca, quando o pasto perde qualidade e entra em cena a suplementação com proteinados, rações, semiconfinamento ou confinamento total. Para manter a rentabilidade da atividade, o desafio é aliar desempenho animal com estratégias que reduzam o custo da arroba produzida. Uma dessas estratégias é o uso de alimentos alternativos disponíveis regionalmente, muitas vezes subprodutos ou coprodutos de outras cadeias produtivas, que podem substituir parcialmente ingredientes tradicionais como milho e farelo de soja.
Esses alimentos alternativos são encontrados em diversas regiões do Brasil, com ampla variedade e composição. Entre eles, destacam-se: o DDGS (grão seco de destilaria com solúveis), proveniente da indústria do etanol de milho; subprodutos da cana, como o bagaço, melaço e levedura; o farelo de amendoim; a polpa cítrica; o resíduo da indústria de fécula de mandioca; restos de batata-doce da colheita; caroço e capulho de algodão; feno de sobras da colheita de braquiária; e resíduos úmidos de cervejaria, entre muitos outros.
Cada um desses ingredientes tem características nutricionais específicas. Por isso, a primeira providência ao considerar seu uso é realizar uma análise bromatológica. Só assim é possível conhecer o verdadeiro valor nutritivo do alimento, em especial o teor de matéria seca, proteína bruta, energia (FDN, FDA e NDT), além da presença de compostos indesejáveis como micotoxinas, umidade excessiva ou resíduos de processamento.
Uma avaliação nutricional bem-feita permite formular dietas que maximizem o aproveitamento desses ingredientes sem comprometer o desempenho dos animais. É comum encontrar, por exemplo, DDG com mais de 30% de proteína bruta e alto teor energético, o que o torna excelente substituto parcial do farelo de soja. Já a polpa cítrica apresenta elevada digestibilidade e pode ser uma boa fonte de energia no lugar do milho, com vantagens em sistemas com restrição de amido. O resíduo de fécula de mandioca, por sua vez, tem alto teor de amido, mas exige atenção à umidade e ao risco de fermentações indesejáveis.
Além da composição, a logística de aquisição, armazenamento e fornecimento também deve ser considerada. Muitos desses ingredientes têm alta umidade e rápida deterioração, exigindo manejo adequado e, em alguns casos, ensilagem como estratégia de conservação. A umidade também pode favorecer o desenvolvimento de fungos e a presença de micotoxinas. Existe a necessidade de armazenamento adequado e o uso de adsorventes para prevenir problemas com contaminantes que prejudicam o desempenho e em alguns casos, quando a contaminação é elevada, ocorrência de morte de animais.
A viabilidade econômica do uso desses alimentos deve ser sempre calculada com base no custo por unidade de nutrientes (por exemplo, R$/kg de proteína ou energia digestível), e não apenas no preço por tonelada. Um alimento barato por tonelada pode sair caro se tiver baixa concentração de nutrientes ou elevado teor de água. A comparação entre alguns alimentos convencionais e alternativos com base em análises bromatológicas médias pode favorecer a escolha do melhor ingrediente, do ponto de vista nutricional e econômico.
Tabela 1 – Composição bromatológica de ingredientes convencionais e regionais alternativos (base na MS).
Além da análise laboratorial, a adoção de alimentos regionais também exige acompanhamento técnico para avaliar respostas produtivas, como ganho de peso e conversão alimentar e ajustes nas dietas conforme o desempenho dos lotes.
A diversificação da dieta com alimentos locais pode reduzir custos, gerar mais arrobas por real investido e ainda agregar valor à atividade ao aproveitar recursos que, muitas vezes, seriam descartados. No entanto, essa estratégia exige critério, planejamento e orientação técnica, para que a substituição dos ingredientes tradicionais não comprometa a eficiência do sistema.
No atual cenário da pecuária, buscar alternativas que mantenham ou aumentem a produtividade, sem elevar os custos de forma desnecessária, é uma necessidade para quem quer se manter competitivo. Os alimentos alternativos regionais, quando bem conhecidos e utilizados com base técnica, tornam-se aliados valiosos na produção de bovinos eficientes, seja a pasto com suplementação ou em sistemas mais intensivos.