A safra 2024/2025 de cana-de-açúcar foi marcada por uma combinação de desafios agronômicos e climáticos, que reduziram a quantidade colhida no Centro-Sul do Brasil, mas não impediram a quebra de recorde na produção de etanol. Segundo dados divulgados nesta segunda-feira (14) pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), a moagem de cana na região alcançou 621,876 milhões de toneladas, uma queda de 4,98% em relação ao ciclo anterior. Ainda assim, foram produzidos 34,959 bilhões de litros de etanol, o maior volume da história.
A redução na moagem já era esperada, após o desempenho excepcional registrado na safra passada. “Apesar da queda, essa foi a segunda maior moagem da história do Centro-Sul, com um recorde absoluto na fabricação de etanol”, destacou o diretor de Inteligência Setorial da Unica, Luciano Rodrigues.
Os dados revelam uma expressiva queda na produtividade agrícola: o rendimento médio das lavouras caiu 10,7%, passando de 87,1 para 77,8 toneladas por hectare. O estado de São Paulo, principal produtor da região e responsável por 57,5% da moagem, teve retração ainda maior, de 14,3%. Segundo a Unica, fatores como estresse hídrico, incêndios e clima desfavorável durante o desenvolvimento das lavouras impactaram o desempenho das plantações.
Apesar disso, a qualidade da cana colhida melhorou. O teor de açúcar (medido em ATR – Açúcares Totais Recuperáveis) subiu 1,33%, atingindo 141,07 kg por tonelada. O mix industrial nesta safra favoreceu levemente o etanol, que recebeu 51,95% da cana processada. A produção de açúcar, por sua vez, ficou em 40,169 milhões de toneladas, uma queda de 5,31% em relação à safra anterior.
O etanol de milho foi um dos grandes destaques do período. Com 8,19 bilhões de litros produzidos, a alta foi de 30,7% em comparação ao ciclo 2023/2024, representando quase um quarto (23,43%) da produção total do biocombustível no Centro-Sul. A produção de etanol hidratado subiu 10,27%, totalizando 22,592 bilhões de litros, enquanto a de etanol anidro caiu 5,63%, ficando em 12,366 bilhões de litros.
Segundo Rodrigues, a elevação da produção de etanol reflete tanto o maior direcionamento da cana para esse fim quanto o crescimento das usinas voltadas ao milho. "Esse ciclo agrícola foi marcado por desafios, mas também por avanços na eficiência e na diversificação da matriz produtiva do etanol brasileiro", afirmou.
Os preços do etanol hidratado seguiram firmes no mercado paulista na última semana, com um leve aumento de 0,23% entre 7 e 11 de abril, conforme dados do Indicador CEPEA/ESALQ. O litro do etanol hidratado foi cotado a R$ 2,7460 (líquido de ICMS e PIS/Cofins), refletindo o suporte vindo do iminente início das atividades industriais em várias praças produtoras e dos estoques ainda reduzidos neste início de moagem.
Por outro lado, o etanol anidro apresentou queda de 2,48% no mesmo período, com o preço do litro atingindo R$ 3,0809 (valor líquido de impostos). Esse comportamento reflete a dinâmica do mercado, com o etanol anidro sofrendo uma ligeira desvalorização enquanto o hidratado se mantém mais firme.
Pesquisadores do Cepea destacam que a proximidade dos feriados prolongados contribuiu para a movimentação de negócios com volumes maiores de etanol, mas a quantidade total negociada ainda ficou abaixo das expectativas do mercado. O cenário de estoques baixos e o início das atividades de moagem indicam que, apesar das flutuações de preços, o etanol hidratado deve continuar com preços sustentados nas próximas semanas.