A escalada nas tensões comerciais entre China e Estados Unidos, marcada pela imposição de novas tarifas chinesas de 34% sobre produtos agrícolas norte-americanos, ameaça reconfigurar o comércio mundial de alimentos. A medida, anunciada por Pequim na última sexta-feira (4), representa o capítulo mais agressivo de uma guerra tarifária reacendida pelo governo de Donald Trump, provocando temores de recessão global e abalando os mercados financeiros.
Com a retaliação, que se soma a tarifas anteriores de 10% a 15% sobre cerca de US$ 21 bilhões em produtos agrícolas, a continuidade do comércio entre as duas maiores economias do mundo está em xeque — especialmente no setor agropecuário. As exportações agrícolas dos EUA para a China, já em queda desde a primeira rodada de disputas comerciais, podem ser ainda mais prejudicadas.
Entre os produtos mais afetados estão a soja, milho, carnes, algodão, trigo e sorgo. A soja, principal item exportado pelos EUA para a China, somou US$ 12,8 bilhões em 2024. No entanto, a dependência chinesa do grão norte-americano vem diminuindo, com o Brasil ganhando espaço e se consolidando como principal fornecedor, graças a preços mais competitivos e maior disponibilidade.
A participação de mercado dos EUA na China caiu de 40% em 2016 para apenas 21% em 2024. “A China está usando os bilhões que ainda gasta com produtos agrícolas dos EUA como arma na guerra comercial, com menos risco para sua segurança alimentar”, aponta a agência Reuters.
O milho segue o mesmo caminho: as importações chinesas caíram de US$ 2,6 bilhões para apenas US$ 561 milhões no último ano, impulsionadas pelo aumento da produção local e pela aprovação do milho brasileiro como alternativa. Já nas carnes, as vendas dos EUA para a China também vêm perdendo fôlego.
Em 2024, os embarques de carne e miúdos somaram US$ 2,54 bilhões, bem abaixo dos US$ 4,11 bilhões registrados em 2021. O entrave na renovação de licenças de exportação também afetou o setor, deixando diversos frigoríficos americanos fora do mercado chinês.
O algodão e o sorgo também enfrentam obstáculos. As exportações de algodão dos EUA à China caíram para US$ 1,49 bilhão, e as de sorgo, embora tenham aumentado levemente para US$ 1,73 bilhão, enfrentam concorrência crescente da Austrália, Argentina e do milho brasileiro, quando este apresenta preço competitivo. No caso do trigo, os embarques atingiram US$ 600 milhões em 2024 — o maior valor em três anos — mas podem ser afetados pela ampla oferta doméstica chinesa.