21/08/2024 às 10h10min - Atualizada em 21/08/2024 às 10h10min

Questão polêmica no “Enem dos concursos’’ vincula o agro à exploração predatória da terra

Presidente da ABMRA critica abordagem e defende visão mais equilibrada do agronegócio

- Da Redação, com Canal Rural
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Uma questão do Concurso Nacional Unificado (CNU), também conhecido como "Enem dos Concursos", gerou controvérsia ao relacionar o agronegócio à "exploração predatória da terra". A prova, aplicada no último fim de semana para selecionar servidores públicos, incluía uma pergunta sobre terras indígenas que apontava o setor agropecuário como responsável por práticas nocivas ao meio ambiente.
 
O presidente da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agro (ABMRA), Ricardo Nicodemos, manifestou-se contrário à questão, afirmando que ela reflete uma visão equivocada e desinformada sobre o agronegócio. Ele criticou a forma como o setor é retratado, citando um estudo da Universidade de São Paulo (USP), que revela que 60% das menções ao agro nos livros didáticos são negativas. Para Nicodemos, é necessário promover uma compreensão mais justa do setor na sociedade urbana.
 
Nicodemos também destacou que a questão reforça percepções incorretas sobre a relação entre indígenas e o agronegócio. Ele lembrou que muitos indígenas hoje atuam no setor, produzindo culturas como café e cacau de alta qualidade. "O agronegócio inclui e acolhe os indígenas, que são parte essencial da produção agrícola no Brasil", afirmou o presidente da ABMRA.
 
O setor agropecuário, segundo Nicodemos, precisa reagir contra desinformações como as presentes no concurso. Ele mencionou o Projeto Marca Agro do Brasil, que monitora fake news relacionadas ao agro. "É fundamental que o setor se una para combater essas inverdades", concluiu.
 
Confira a questão polêmica do ‘Enem dos Concursos’
 A pergunta, que tratava sobre a proteção das terras indígenas e a relação entre desenvolvimento econômico e sustentabilidade, trouxe como resposta correta a opção "e", que associa o desenvolvimento à exploração predatória, supostamente representada pelo agronegócio.

“No contexto da redemocratização política do Brasil, em especial em função da promulgação da Constituição Federal de 1988 e graças à mobilização da sociedade civil e de lideranças indígenas, observou-se a ampliação do direito à proteção e ao usufruto das terras dos povos originários. 

É muito comum nos depararmos com afirmações de que, no Brasil, ‘há muita terra para pouco índio’, geralmente acompanhadas de assertivas segundo as quais as populações indígenas e tradicionais são um ‘entrave ao desenvolvimento’.

Em função desse modelo de desenvolvimento, voltado para a exportação de produtos primários, os povos indígenas continuam sendo considerados um empecilho ao desenvolvimento, mas um desenvolvimento praticado de forma predatória, ao bem dos interesses particulares de poucos, e não do interesse comum.

Levando em conta o texto acima, a noção de que “há muita terra para pouco índio:

(a) sustenta-se numa premissa nacional-desenvolvimentista, cuja atualização em nossos dias tem como principal objetivo a produção de riqueza e  sua distribuição mais equânime, justa e igualitária.

(b) fundamenta-se no reconhecimento da natureza conservacionista dos povos originários, que representam um obstáculo ao desenvolvimento sustentável do país.

(c) legitima-se pelo avanço do agronegócio no Brasil, uma vez que concorre para a ampliação das fronteiras agrícolas, na mesma medida em que contribui para a proteção do direito à terra e para a manutenção dos modos de vida dos povos originários.

(d) justifica-se pela condescendência da legislação indigenista, própria da constituição federal de 1988, a qual privilegia os povos originários.

(e) relaciona-se com uma certa concepção de desenvolvimento, associada a um tipo de exploração predatória da terra, da qual decorre desacertadamente que o reconhecimento da propriedade indígena representaria um suposto entrave à economia sustentável do país.’’

 

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