Estou acompanhando de perto os preparativos para a COP30, marcada para acontecer entre 10 e 21 de novembro de 2025 em Belém, no coração da Amazônia. E, embora o cenário escolhido seja de um simbolismo poderoso, não posso deixar de expressar uma certa preocupação e uma crítica firme, sobre o rumo que tudo isso está tomando.
A promessa era linda: reunir o mundo para discutir o futuro do planeta bem no meio da floresta mais importante do globo. Só que a realidade anda um pouco mais embaçada do que o discurso. Começa pelos preços absurdos de hospedagem, que chegam a até 2 mil dólares por noite! Com valores assim, como é que se espera a participação efetiva de países em desenvolvimento, povos indígenas, pequenas ONGs e tantas vozes essenciais do debate climático?
Uma delegação africana, por exemplo, já bateu o pé: não aceita diminuir sua presença. E tem razão. Afinal, se só os países ricos poderem vir, que tipo de negociação global vamos ter? O governo brasileiro até reagiu, reservando alguns quartos com tarifas mais razoáveis, entre 100 e 600 dólares, para algumas delegações. Mas convenhamos, é uma medida paliativa diante de um problema estrutural.
Belém, com seus cerca de 18 mil leitos, vai precisar abrigar até 45 mil pessoas. A conta simplesmente não fecha. A solução? Navios-cruzeiro, escolas transformadas em alojamentos, até uma tal de “Vila COP” improvisada de última hora. A criatividade é admirável, sim, mas também denuncia o improviso. A sensação é de que tudo está sendo montado às pressas para não deixar o evento escapar das mãos.
O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, já declarou que “não há plano B”. E, confesso, isso me soa mais teimosia do que convicção. Porque manter o evento ali, custe o que custar, pode acabar custando muito: não só financeiramente, mas politicamente, simbolicamente e ambientalmente.
A parte que mais me preocupa, no entanto, é que tudo isso ( logística, hospedagem, estruturas de última hora) está começando a eclipsar o que realmente importa. A COP30 foi pensada para discutir adaptação às mudanças climáticas, financiamento, justiça ambiental, povos originários, Amazônia viva. Mas esses temas vão ficando no fundo da fila, ofuscados pelas dificuldades práticas e pela ausência de um debate mais aberto e transparente com a sociedade local.
Aliás, o que dizem os moradores de Belém? Muitos estão sendo removidos de suas casas, sem voz nas decisões. E enquanto as obras urbanas correm para embelezar a cidade, a participação social parece ter ficado para depois, ou para nunca.
É por isso que é necessário levantar um alerta. Sim, é importante que a COP30 aconteça na Amazônia. O gesto é forte, simbólico, poderoso. Mas de que adianta um palco grandioso, se quem precisa falar não consegue chegar até ele? Se o conteúdo fica à sombra da forma?
Há esperança. Os grupos de trabalho estão sendo organizados, com temas importantes na mesa. O Comitê COP30 da sociedade civil latino-americana segue atuante, cobrando inclusão e justiça socioambiental. Mas precisamos estar atentos, todos nós, para que esse encontro não se torne apenas um evento bonito para fotos, enquanto o mundo lá fora arde.
A COP30 ainda pode ser histórica, transformadora, referência. Mas, para isso, o essencial precisa voltar ao centro da conversa. Com menos improviso, mais escuta. Com menos vitrine, mais participação real. A floresta merece. E o planeta também.