Tarifaço de Trump ameaça exportações brasileiras e pressiona produtores rurais

Agronegócio teme perdas bilionárias com sobretaxa de 50% nos embarques aos EUA, alerta Cepea/USP

Fred Almeida
24/07/2025 09h04 - Atualizado há 1 dia
Tarifaço de Trump ameaça exportações brasileiras e pressiona produtores rurais
Foto: reprodução

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados ao país pode afetar o agronegócio nacional, especialmente nos setores de suco de laranja, café, carne bovina e frutas frescas. O alerta foi feito pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, que vê riscos de desequilíbrio de mercado, prejuízos à cadeia produtiva e queda na remuneração ao produtor.

Entre os produtos mais sensíveis à medida está o suco de laranja. Atualmente, a bebida já paga uma tarifa fixa de US$ 415 por tonelada para entrar no mercado norte-americano. Com a nova taxa adicional, os custos aumentariam drasticamente, comprometendo a competitividade do Brasil no segundo maior destino de suas exportações. O cenário é ainda mais preocupante diante da boa safra de 2025/2026, estimada em 314,6 milhões de caixas, alta de 36% sobre o ciclo anterior. O risco de acúmulo de estoques e queda nos preços internos é real.

O café brasileiro também está entre os principais atingidos. Os EUA são os maiores consumidores globais da bebida e compram cerca de 25% da produção brasileira, sobretudo do tipo arábica, essencial para o setor de torrefação local. Como os americanos não produzem café, a elevação no custo de importação tende a afetar toda a cadeia interna. O Cepea defende que o grão seja excluído do pacote tarifário, sob risco de perdas para ambos os países. Com o cenário instável, produtores brasileiros têm evitado grandes vendas, mantendo o mínimo necessário para garantir o caixa.

Outro setor que acende o sinal de alerta é o da carne bovina. Os EUA são o segundo maior comprador do produto brasileiro, atrás apenas da China. Em abril, importaram volumes recordes, acima de 40 mil toneladas, o que pode ter sido uma tentativa de formar estoques antes da medida protecionista. Apesar de uma recente redução no volume exportado aos norte-americanos, frigoríficos brasileiros vêm diversificando destinos, com alta nas vendas para a China e outros mercados, o que pode mitigar parcialmente os efeitos da nova tarifa.

O impacto também é sentido na fruticultura, especialmente nas frutas frescas. A manga, cuja janela de exportação aos EUA se inicia em agosto, já registra postergação de embarques. A uva, que tem demanda relevante no país a partir de setembro, também pode ser afetada. Antes do anúncio, havia expectativa de crescimento nas exportações, impulsionado pela valorização do dólar e por boas colheitas. Agora, o temor é de excesso de oferta interna e pressão sobre os preços pagos aos agricultores.

Diante do cenário, o Cepea cobra urgência em uma articulação diplomática entre Brasil e Estados Unidos, com o objetivo de reverter ou excluir os produtos agroalimentares das novas tarifas. “Trata-se de uma medida estratégica, não apenas para o Brasil, mas também para os EUA, cuja segurança alimentar e competitividade agroindustrial dependem significativamente do fornecimento brasileiro”, reforça a nota do centro de estudos.

O tarifaço ocorre em um momento de recuperação econômica no campo brasileiro, e pode abalar o ritmo das exportações, pressionar o mercado interno e prejudicar produtores em diversas regiões do país.


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