Setores de pescados e carne bovina se mobilizam para amenizar efeitos da nova tarifa dos EUA

As empresas de pescados estão correndo contra o tempo para embarcar suas mercadorias antes do dia 6 de agosto.

- Da redação. com Globo Rural
01/08/2025 08h32 - Atualizado há 17 horas
Setores de pescados e carne bovina se mobilizam para amenizar efeitos da nova tarifa dos EUA
Foto: reprodução

Com a sobretaxa de 50% sobre exportações para os Estados Unidos se aproximando, os setores de pescado e carne bovina do Brasil, que permanecem sujeitos à medida, estão agindo para minimizar os prejuízos a curto prazo ou até mesmo tentar inclusão na lista de isenções estabelecida pelo governo americano.

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), há expectativa de enviar ao menos 400 toneladas de peixes ao mercado norte-americano até essa data. A regra atual prevê que esses lotes só serão tarifados 90 dias após o envio, ou seja, a partir de outubro o que permite tempo hábil para as cargas chegarem aos portos dos EUA.

No início do mês, havia projeção de que 1,5 mil toneladas de pescado ficariam retidas, especialmente em portos do Nordeste. No entanto, parte desse volume já foi redirecionada a outros mercados e o restante, cerca de 500 toneladas, permanecerá no mercado interno, informou Eduardo Lobo, presidente da Abipesca, ao Valor Econômico.

“As cargas que estavam com embarques suspensos, o empresariado vai correr e tentar fazer embarque de tudo que for possível até dia 6 de agosto. O setor ganhou 6 dias úteis para tentar escoar uma parte da produção. Isso é bom, mas é um grão de areia no oceano porque olhamos para frente”, disse.

Apesar de aliviar um pouco os impactos da nova tarifa, a antecipação dos embarques está longe de resolver a situação. As empresas ainda aguardam a liberação, por parte do governo, de uma linha de crédito de R$ 900 milhões para capital de giro e também a autorização para utilizar cerca de R$ 100 milhões em créditos tributários acumulados. Segundo o setor, essas medidas são fundamentais para garantir o funcionamento das operações até que o cenário se torne mais estável.

A grande preocupação está na preservação de aproximadamente 4,5 mil postos de trabalho na indústria e de cerca de 20 mil pescadores artesanais que abastecem as empresas do setor.

Lobo não vê como viável uma isenção total da tarifa para os pescados brasileiros, mas acredita que pode haver uma negociação entre os dois países para que a alíquota seja ajustada a níveis semelhantes aos praticados com nações da América Central e Caribe. “Sem isso, o setor perde a competitividade no mercado internacional”, alertou. Hoje, os Estados Unidos representam 70% das exportações brasileiras de pescado, que devem alcançar US$ 600 milhões em 2025.

A “coisa razoável”, avaliou Lobo, é a negociação entre os governos para que a tarifa seja equilibrada. A perda de competitividade nos EUA é ainda mais grave porque não há mercados alternativos relevantes para o pescado brasileiro. Isso porque a Europa, que poderia ser uma opção para os embarques do setor, mantém embargo aos pescados brasileiros desde 2017.

Enquanto isso, os exportadores de carne bovina seguem confiantes na possibilidade de serem incluídos na lista de isenções. De acordo com fontes do setor, importadores americanos já sinalizaram a intenção de pressionar por essa inclusão junto ao governo dos EUA.

Esses importadores, segundo relatos, estão mantendo conversas com o Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) e também com comissões do Congresso americano. No entanto, eles reconhecem que os “pontos de influência” são limitados, já que a decisão final sobre isentar ou não a carne bovina recairá sobre a Casa Branca.

Paralelamente, os importadores estão tentando sensibilizar a opinião pública americana por meio da imprensa, destacando a importância do comércio com o Brasil, especialmente em um momento de baixa oferta de bovinos para abate nos EUA.

Para os frigoríficos brasileiros, substituir o mercado americano é uma tarefa difícil, principalmente porque os cortes enviados para lá têm características específicas geralmente partes magras do dianteiro usadas na produção de hambúrgueres e são valorizados por preços competitivos. A carne bovina não entrou na lista de exceções anunciada pelos EUA. Considerando as tarifas já existentes, a nova alíquota fora da cota elevará os custos para 76,4%, o que inviabiliza a continuidade dos negócios com o país.

 

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