A estação seca representa um desafio constante para os pecuaristas, com a redução drástica na disponibilidade de forragem de qualidade devido às condições adversas de temperatura, baixa umidade e escassez de chuvas. Nesse período, a suplementação alimentar torna-se uma estratégia essencial para manter o ganho de peso do gado e assegurar a rentabilidade da produção.
Entre as ferramentas disponíveis, os ionóforos destacam-se como aditivos que melhoram a eficiência alimentar, promovendo maior aproveitamento dos nutrientes e incrementando o desempenho animal a um custo relativamente baixo. Além dos ionóforos, outros aditivos, como leveduras, óleos essenciais e taninos, também podem otimizar a digestão e a saúde ruminal, mas os ionóforos oferecem uma relação custo-benefício difícil de superar, especialmente na seca.
Os ionóforos, como a monensina, lasalocida e salinomicina, são compostos que atuam diretamente no rúmen, alterando a população microbiana para favorecer bactérias que produzem ácidos graxos voláteis, como o propionato, em detrimento do metano. Essa mudança no metabolismo ruminal aumenta a eficiência na conversão alimentar, permitindo que o animal ganhe mais peso com a mesma quantidade de alimento. O uso de ionóforos na suplementação durante a seca pode elevar o ganho médio diário (GMD) em até 20-30% em comparação com dietas sem esses aditivos. Por exemplo, em sistemas de pastejo com suplementação proteico-energética, bezerros suplementados com monensina apresentaram GMD de 0,8 a 1,0 kg/dia, contra 0,6 kg/dia em grupos sem ionóforos, sob condições similares.
A principal vantagem dos ionóforos está no impacto econômico. O custo de inclusão desses aditivos em suplementos é baixo, geralmente variando entre R$ 0,10 e R$ 0,30 por animal/dia, dependendo da dose e do produto. Em contrapartida, o incremento no ganho de peso pode representar um aumento de 1 a 2 arrobas por animal ao final da seca, o que, em valores de mercado atuais, pode significar um retorno de R$ 300 a R$ 600 por cabeça, considerando o preço da arroba em torno de R$ 300. Esse retorno é ainda mais significativo em sistemas de recria e engorda, onde o tempo para atingir o peso de abate é reduzido, diminuindo os custos com mão de obra e infraestrutura. Além do ganho de peso, os ionóforos contribuem para a saúde animal. Eles ajudam a prevenir distúrbios digestivos, como a acidose ruminal, comum em dietas com alta inclusão de grãos, frequentemente utilizados na suplementação da seca.
A ação dos ionóforos no controle de coccidiose, uma parasitose que afeta principalmente animais jovens, também é um benefício adicional, reduzindo perdas e custos com tratamentos veterinários. A monensina, por exemplo, reduz a incidência de coccidiose em até 70%, melhorando o bem-estar e a produtividade do rebanho. O impacto dos ionóforos no desempenho de novilhas Nelore em pastejo durante a seca, com e sem suplementação contendo monensina foi bem positivo (Tabela 1)
Fonte: Embrapa Gado de Corte (2023). Dados adaptados de experimentos em Campo Grande, MS.
A inclusão de monensina, nesse caso, resultou em um ganho adicional de 18 kg por animal em 90 dias, com um custo extra de apenas R$ 0,20 por dia. Esse incremento pode traduzir-se em maior lucratividade, especialmente em sistemas intensivos ou semi-intensivos, onde a eficiência alimentar é crucial. Outro ponto importante é a facilidade de manejo.
Os aditivos são incorporados diretamente ao suplemento mineral ou proteico-energético, sem necessidade de equipamentos adicionais ou mudanças drásticas na rotina da fazenda. Contudo, é fundamental respeitar as doses recomendadas (geralmente entre 10 e 40 mg/kg de suplemento) e consultar um técnico ou nutricionista para ajustar a formulação às condições específicas do rebanho e da pastagem.
A suplementação deve ser planejada com base na análise da qualidade do pasto e nas metas de ganho de peso, garantindo que os aditivos sejam usados de forma estratégica. Vale destacar que os aditivos não são uma solução isolada. A eficiência do seu uso depende de outros fatores, como a qualidade do suplemento, o manejo do pasto e a condição corporal dos animais no início da seca. Pastagens bem manejadas, com oferta mínima de forragem, potencializam os efeitos dos aditivos, enquanto animais em boas condições de saúde e peso respondem melhor à suplementação.
A integração de aditivos com outros aditivos, como leveduras, pode ser considerada em sistemas mais intensificados, mas os aditivos sozinhos já oferecem resultados consistentes e acessíveis. A suplementação com aditivos na seca é uma ferramenta poderosa para aumentar a eficiência da pecuária. Com um investimento relativamente baixo, é possível obter ganhos expressivos em peso, reduzir o tempo de terminação e melhorar a saúde animal, impactando diretamente a rentabilidade da operação.
A adoção dessa prática permite ao pecuarista enfrentar os desafios da seca com maior segurança e produtividade. Para maximizar os resultados, é essencial planejar a suplementação com o apoio de profissionais qualificados, garantindo que cada real investido se traduza em mais arrobas no final do ciclo. Com os aditivos, a seca deixa de ser apenas um obstáculo e passa a ser uma oportunidade para crescer.