Mais Arrobas com solos descompactados

João Menezes
02/07/2025 08h19 - Atualizado há 1 dia
Mais Arrobas com solos descompactados
Foto: João Menezes

A busca por maior eficiência e rentabilidade na pecuária passa, necessariamente, pelo entendimento do solo onde se produz. Embora a compactação do solo seja frequentemente apontada como vilã da produtividade, a realidade em campo mostra que nem sempre ela é a causa da degradação das pastagens. Conhecer a estrutura do solo, avaliar corretamente a existência de compactação e entender suas consequências são etapas fundamentais para evitar investimentos desnecessários em operações de descompactação, especialmente em solos arenosos, onde o problema é raro e a operação pode ser onerosa e pouco efetiva.

O solo compactado é caracterizado pela redução da sua porosidade, dificultando a penetração de raízes, a infiltração de água e a absorção de nutrientes pelas plantas. Em sistemas de produção pecuária, a compactação pode ser causada tanto pelo uso inadequado de implementos agrícolas quanto pelo pisoteio animal, sendo que este último, de modo geral, resulta em compactação superficial e localizada, restrita a áreas de passagem intensa dos animais, como trilheiros.

A compactação superficial, típica do pisoteio animal, atinge geralmente os primeiros 10 cm do solo e pode ser revertida naturalmente, principalmente com o manejo adequado da lotação e da cobertura vegetal. Já a compactação causada por máquinas agrícolas tende a atingir camadas mais profundas e é mais difícil de corrigir. Por isso, antes de qualquer intervenção, é imprescindível realizar um diagnóstico, utilizando ferramentas como o penetrômetro ou trincheiras para avaliação do perfil do solo. A resistência à penetração, medida em MPa, é um dos principais indicadores para identificar a necessidade de descompactação.

Muitos produtores, ao se depararem com pastagens degradadas, recorrem automaticamente à subsolagem ou escarificação, sem antes investigar as causas do problema. No entanto, em grande parte das áreas de pastagem, especialmente nas de textura arenosa, não há compactação que justifique tais operações. Nesses casos, o manejo inadequado, a baixa fertilidade do solo e a ausência de cobertura vegetal são fatores muito mais determinantes para a queda de produtividade do que a compactação em si.

Além disso, a subsolagem é uma das operações mais caras da agricultura, demandando alta potência de trator e consumo de combustível. Realizá-la sem necessidade representa desperdício de recursos e pode até mesmo prejudicar a estrutura do solo se feita em condições inadequadas de umidade ou profundidade. A avaliação prévia, feita por um técnico, evita gastos desnecessários e direciona o investimento para as reais necessidades da área, como correção da fertilidade, ajuste da lotação animal e melhoria do manejo da pastagem. A profundidade típica da compactação do solo em diferentes sistemas de uso, como a compactação causada pelo pisoteio animal e por implementos agrícolas pode ser diferente em profundidade e forma de correção (Tabela 1).

Tabela 1 - Profundidade típica da compactação do solo em diferentes sistemas de uso (Adaptado de Silva et al., 2000a, Collares, 2005, Lanzanova, 2005).

A correção da fertilidade do solo é um passo fundamental para que a gramínea desempenhe um papel ativo na melhoria da estrutura do solo. Quando o solo está equilibrado em nutrientes, as raízes das plantas crescem com maior vigor e profundidade, contribuindo para a descompactação do solo. Esse processo ocorre porque as raízes, ao se desenvolverem, criam canais que facilitam a infiltração de água e a circulação de ar, além de estimular a atividade biológica do solo, como a presença de minhocas e microrganismos benéficos. Assim, o investimento em corretivos e fertilizantes adequados não só melhora a produtividade da pastagem, mas também potencializa a recuperação e manutenção da estrutura do solo, reduzindo a necessidade de intervenções mecânicas custosas.

Outro aspecto importante para evitar a compactação e a formação de trilheiros é o planejamento da localização de pontos de água e saleiros dentro da propriedade. Áreas mal distribuídas ou concentradas em locais inadequados podem gerar trânsito intenso e concentrado do gado, provocando compactação localizada, erosão e desgaste da pastagem. Ao posicionar esses pontos em locais estratégicos, com boa drenagem e acesso facilitado, é possível distribuir melhor o pisoteio dos animais, minimizando os impactos negativos no solo. Além disso, a criação de corredores amplos e bem manejados para o deslocamento do gado contribui para um caminhar mais uniforme, evitando o desgaste excessivo do solo e garantindo a sustentabilidade da produção.

O manejo eficiente é, portanto, um componente essencial para a pecuária rentável, que busca maximizar a produção sem comprometer a saúde do solo e da pastagem. Portanto, para obter maior produtividade, o caminho é investir em conhecimento e diagnóstico preciso do solo. Medir a compactação, conhecer a textura e a estrutura e identificar corretamente as causas da degradação da pastagem são práticas que aumentam a eficiência e a rentabilidade da pecuária. Em muitos casos, o ajuste do manejo e a correção da fertilidade trazem resultados mais rápidos e econômicos do que a descompactação mecânica. Solo bem manejado é sinônimo de pastagem produtiva e de mais carne por hectare, sem desperdício de recursos.


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