Mais Arrobas com fibras funcionais

João Menezes
25/06/2025 09h00 - Atualizado há 1 dia
Mais Arrobas com fibras funcionais
Foto: Arquivo pessoal

Os ruminantes, como bovinos, ovinos e caprinos, são animais que evoluíram para digerir eficientemente forragens, especialmente gramíneas e leguminosas. Seu sistema digestivo único, com o rúmen como principal câmara de fermentação, permite a quebra de fibras complexas em compostos mais simples, que são então utilizados para energia e produção. Com a domesticação e a intensificação da produção animal, dietas mais concentradas, ricas em grãos e subprodutos, foram introduzidas para aumentar o desempenho, como ganho de peso em gado de corte e produção de leite em vacas leiteiras. No entanto, essa mudança trouxe desafios, especialmente relacionados à saúde ruminal, pois dietas com alto teor de concentrados podem levar a distúrbios como a acidose ruminal.

Para mitigar esses problemas, é crucial incluir uma quantidade adequada de fibras na dieta, particularmente fibras que são fisicamente efetivas. Essas fibras, conhecidas como peFDN (fibra detergente neutra fisicamente efetiva), não só fornecem nutrientes, mas também estimulam a mastigação, ruminação e produção de saliva, que são essenciais para manter o pH ruminal dentro de faixas saudáveis. Assim, a gestão adequada da peFDN é fundamental para formular dietas de alto desempenho que promovam uma pecuária eficiente e rentável.

A peFDN é uma medida que combina o conteúdo de FDN (fibra detergente neutra) com o tamanho das partículas da forragem. O FDN representa a fração fibrosa da planta, incluindo celulose, hemicelulose e lignina, que são digeridas mais lentamente no rúmen. No entanto, nem toda FDN é igualmente efetiva em estimular a ruminação; isso depende do tamanho das partículas. Partículas maiores requerem mais mastigação e ruminação, o que aumenta a produção de saliva, rica em bicarbonato, ajudando a neutralizar os ácidos produzidos durante a fermentação ruminal.

Portanto, a peFDN é calculada multiplicando o conteúdo de FDN pela proporção de partículas que são retidas em uma peneira de certo tamanho, comumente 1,18 mm ou 4 mm, dependendo do método utilizado. Para fins práticos, o Separador de Partículas da Penn State é uma ferramenta amplamente utilizada para avaliar a distribuição do tamanho das partículas em rações mistas totais (TMR). Essa ferramenta permite que os produtores monitorem a estrutura física da dieta, garantindo que ela forneça peFDN suficiente para promover a saúde ruminal.

A peFDN desempenha um papel crucial na prevenção de distúrbios digestivos. Ao estimular a mastigação e ruminação, ela aumenta a produção de saliva, que contém bicarbonato e fosfato, ajudando a tamponar o pH ruminal. Isso é essencial para prevenir a acidose ruminal, um problema comum em dietas ricas em concentrados, que pode levar a condições como laminite, abscessos hepáticos, timpanismo e acidose subaguda. Estimar a peFDN é necessária com base no conteúdo de concentrado, ajudando a reduzir esses riscos.

Em gado de corte, pequenos aumentos no FDN total em dietas de confinamento podem aumentar a ingestão de energia líquida para ganho (NEg) sem grandes mudanças na eficiência alimentar, sugerindo que a inclusão de fibras pode ser benéfica mesmo em sistemas intensivos. Para garantir que as dietas contenham peFDN suficiente, é importante seguir algumas práticas como medir o tamanho das partículas, normalmente com o Separador de Partículas da Penn State para avaliar a distribuição do tamanho das partículas na ração. Essa ferramenta separa as partículas em frações com base em tamanhos específicos, como >19 mm, 8-19 mm, 4-8 mm e <4 mm, permitindo ajustes na formulação (Tabela 1).


Tabela 1: Distribuição Recomendada do Tamanho das Partículas para TMR

Manter a distribuição dentro dessas faixas ajuda a garantir que a ração forneça peFDN suficiente para estimular a ruminação adequada, sem ser excessivamente grossa, o que poderia levar à seleção de partículas pelos animais, como observado em estudos que mostraram maior seleção contra partículas longas em dietas com peFDN elevado.

Escolher forragens apropriadas que naturalmente tenham boa estrutura física, como feno de alfafa ou silagem de milho com boa maturação, e evite subprodutos com baixa efetividade, como casca de soja moída fina. Monitorar o comportamento animal, observando se há sinais de distúrbios digestivos, como fezes inconsistentes, ou comportamentos anormais, como lambedura excessiva ou consumo de terra, ajustando a dieta conforme necessário.

A incorporação de fibras longas de qualidade, ou peFDN, é essencial para manter a saúde ruminal e otimizar o desempenho em ruminantes. Ao entender e gerenciar a peFDN, os produtores podem prevenir distúrbios digestivos, melhorar a eficiência alimentar e, consequentemente, aumentar a rentabilidade de suas operações. A atenção à forma e qualidade da fibra dietética é um componente crítico na formulação de dietas bem-sucedidas, especialmente em sistemas de produção intensiva.


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