Um estudo da Embrapa Pecuária Sudeste, localizado em São Carlos (SP), revelou que a integração entre árvores e pastagens, no chamado sistema silvipastoril (SSP), permite uma lotação de gado 256% maior que a média nacional, ao mesmo tempo em que contribui significativamente para a redução de gases de efeito estufa. Os resultados foram publicados na revista científica Agricultural Systems e apontam o modelo como alternativa promissora para uma pecuária mais sustentável e produtiva no Brasil.
A média nacional de lotação é de cerca de um bovino adulto por hectare. No sistema estudado, que combinava capim-piatã com sombreamento de eucaliptos, a taxa chegou a 3,01 animais adultos por hectare, quase o triplo. Além disso, a absorção de dióxido de carbono pelas árvores compensou 77% das emissões de metano dos bovinos, considerando apenas o carbono estocado nos troncos destinados a produtos de maior valor agregado, como madeira para móveis.
O pesquisador José Ricardo Pezzopane, da Embrapa, explica que o balanço líquido de carbono do sistema foi negativo em -14,28 megagramas de CO2 equivalente por hectare ao ano. “Se considerarmos todo o carbono fixado no tronco das árvores, além de neutralizar a emissão de metano pelos animais, o sistema silvipastoril ainda sequestra grande quantidade de carbono”, afirmou.
O metano entérico, liberado durante a digestão dos bovinos, representa cerca de 65% das emissões agropecuárias em equivalente de CO2. Embora sua permanência na atmosfera seja menor que a do dióxido de carbono, seu potencial de aquecimento global é 27 vezes superior. A presença das árvores, além de sequestrar carbono por meio da fotossíntese, oferece sombra e conforto térmico aos animais, o que, segundo os cientistas, também contribui para a produtividade.
O sistema foi implantado em 2011, com eucaliptos espaçados inicialmente em 15x2 metros. Em 2016, o desbaste ampliou o espaçamento para 15x4 metros, com 167 árvores por hectare. O estudo seguiu as diretrizes do protocolo NCBB (Neutral Carbon Brazilian Beef), que orienta a contabilização de carbono de forma robusta e rastreável.
Mais do que um modelo produtivo, o SSP se apresenta como ferramenta de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. A Embrapa ressalta que, mesmo com sombreamento reduzindo a massa de forragem em algumas estações, o desempenho dos animais foi mantido por meio de suplementação estratégica. O sistema alia sustentabilidade, bem-estar animal e viabilidade econômica, com potencial para contribuir com as metas ambientais do país e atender às exigências de mercados cada vez mais preocupados com a origem da carne consumida.