O carrapato-do-boi, Rhipicephalus (Boophilus) microplus, é um dos principais desafios da pecuária brasileira, causando prejuízos que ultrapassam R$ 15 bilhões por ano. As infestações podem levar à perda de até 1,7 milhão de toneladas de carne bovina anualmente, o equivalente a cerca de 15% da produção nacional.
Conforme avalia o engenheiro agrônomo e gerente de Marketing Regional da IHARA, Gustavo Corsini, o manejo eficiente do carrapato-do-boi é essencial para preservar a produtividade da pecuária brasileira, especialmente em um cenário de crescente demanda por carne e leite.
“Esse parasita, além de provocar perdas diretas de peso e produção leiteira, compromete a saúde dos animais ao atuar como vetor de doenças como a Tristeza Parasitária Bovina. Isso impacta diretamente a rentabilidade das propriedades, elevando custos com medicamentos, queda no desempenho zootécnico e perda de valor do couro”, alerta.
Um dos principais desafios enfrentados pelos pecuaristas é a resistência crescente dos carrapatos aos produtos utilizados no tratamento dos animais. Outro ponto crítico é o fato de que grande parte do ciclo de vida do carrapato, cerca de 95%, ocorre na pastagem – e não no animal.
Essa característica, segundo ele, torna o manejo exclusivo do rebanho insuficiente, já que as reinfestações acontecem de forma constante a partir das pastagens.”Portanto, a gestão integrada do parasita, que considere a pastagem e o animal, torna-se estratégica para quebrar o ciclo e reduzir os impactos no rebanho de forma duradoura”, orienta Corsini.
O avanço tecnológico, conforme destaca o agrônomo, tem ampliado as possibilidades de controle desta praga. “Mais do que novas ferramentas, o setor deve incorporar novas abordagens de manejo que considerem o ciclo biológico do parasita de forma mais ampla, com destaque para o chamado controle ambiental — prática que visa interromper o desenvolvimento do carrapato ainda na fase larval, fora do animal, diretamente nas pastagens, visto que a maior parte do ciclo ocorre fora do hospedeiro”, recomenda Corsini .
Diante disso, o uso de produtos com ação nas pastagens, como inseticidas específicos para aplicação na vegetação, representa um avanço inovador. “Ao atingir as larvas antes que estas migrem para o hospedeiro, evitamos a reinfestação dos animais, reduzindo a pressão parasitária e a necessidade de intervenções frequentes no rebanho” observa o especialista.
Alé disso, segundo ele, essas tecnologias, em alguns casos, oferecem eficácia comprovada de até 90% na redução da população de larvas presentes na pastagem com uma única aplicação, especialmente quando realizada nos períodos de maior infestação — entre setembro e janeiro, quando as condições climáticas favorecem a eclosão dos ovos. De acordo com o especialista, a aplicação desses produtos antes da entrada dos animais no piquete também tem se mostrado eficaz, ao atingir as larvas ainda expostas no ambiente..
“O efeito residual contribui para a quebra do ciclo da praga, integrando-se de forma complementar aos tratamentos já utilizados nos bovinos, o que permite maior flexibilidade no manejo. Além disso, o produto pode ser utilizado também para o controle da cigarrinha-das-pastagens, outra praga que gera grandes prejuízos na qualidade do pasto, otimizando assim os recursos do pecuarista”, complementa.
Por fim, Corsini afirma que a adoção desse tipo de tecnologia no manejo do carrapato-do-boi representa uma alternativa de controle mais duradoura e sustentável, que contribui para o bem-estar animal, melhora o desempenho zootécnico dos rebanhos e reduz o uso repetitivo de medicamentos, o que está em linha com as exigências crescentes do mercado por produtividade com sustentabilidade.