A gripe aviária reacendeu um alerta crítico para o Brasil: a necessidade urgente de fortalecer a resiliência do sistema sanitário animal. Embora a doença, causada pelo vírus Influenza A, não seja transmitida pelo consumo de carne ou ovos bem cozidos, ela pode provocar alta mortalidade em aves e impactos devastadores na produção avícola — e até representar riscos à saúde humana em casos específicos. Mas o perigo vai além das aves: outras epidemias, como a febre aftosa, também têm potencial de desestabilizar a pecuária brasileira e comprometer a economia do setor.
Com uma das maiores produções agropecuárias do mundo, o Brasil precisa investir de forma contínua e estratégica em vigilância sanitária, protocolos de biossegurança, educação dos produtores e estrutura legal para agir com rapidez em situações emergenciais. É esse o caminho para evitar que surtos se tornem crises e para proteger tanto a cadeia produtiva quanto a saúde da população.
A gripe aviária, como detalha o Plano Brasileiro de Preparação para uma Pandemia de Influenza, é classificada como uma das formas de influenza com maior potencial pandêmico, especialmente a cepa H5N1. A preocupação central é que esse tipo de vírus possa sofrer mutações que facilitem a transmissão sustentada entre humanos, o que, segundo o Ministério da Saúde, poderia levar a uma pandemia com impacto comparável ao da gripe espanhola de 1918.
Além da gripe aviária, a febre aftosa segue como uma ameaça constante à pecuária. Comum entre bovinos, suínos e caprinos, a doença causa lesões graves e afeta diretamente a produtividade. Mesmo com avanços no controle, como a retirada de vacinas em áreas livres com reconhecimento internacional, a vigilância permanente continua sendo essencial para evitar recidivas.
O plano brasileiro de preparação para pandemias destaca pilares fundamentais para conter surtos: vigilância epidemiológica ativa, diagnóstico laboratorial ágil, atenção organizada nos serviços de saúde e controle sanitário em portos, aeroportos e fronteiras. Essas diretrizes continuam atuais e deveriam ser expandidas também para o setor agropecuário.
O fortalecimento da rede de laboratórios para detecção rápida de novos subtipos virais e o monitoramento constante em regiões produtoras devem caminhar junto a investimentos em biossegurança, como o controle de entrada de pessoas e veículos em propriedades, a higienização de equipamentos e a separação de lotes animais
De nada adianta a estrutura técnica se produtores e a população em geral não estiverem cientes dos riscos e preparados para agir. A conscientização sobre sintomas, formas de transmissão e medidas de controle é vital para que as primeiras suspeitas sejam reportadas imediatamente.
Além disso, é necessário revisar e modernizar o arcabouço jurídico para garantir respostas rápidas em situações emergenciais, com poderes claros para vigilância sanitária, transporte de animais, restrições comerciais e ações de contenção.
Com o avanço global dos biocombustíveis, da agricultura sustentável e da demanda por alimentos de origem segura, o Brasil precisa consolidar sua posição como produtor responsável e resiliente. A experiência com epidemias passadas mostra que a prevenção custa menos, e salva mais, do que a resposta tardia.
Construir um sistema de defesa sanitária forte e integrado é mais do que proteger a economia agropecuária: é garantir segurança alimentar, saúde pública e estabilidade nacional diante de um cenário global cada vez mais interconectado e vulnerável a crises sanitárias.