Apesar do período de entressafra para produtos que dependem de contêineres, os exportadores de café brasileiros continuam enfrentando graves dificuldades logísticas, segundo dados atualizados pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Apenas em abril de 2025, o país deixou de embarcar 737.653 sacas de 60 kg — o equivalente a 2.236 contêineres —, o que gerou um prejuízo estimado de R$ 6,657 milhões com custos extras como armazenagem adicional, detentions e antecipação de gates.
Desde junho de 2024, quando o Cecafé iniciou o levantamento dos impactos, as perdas acumuladas com essas despesas chegam a R$ 73,2 milhões, resultado da infraestrutura defasada nos principais portos de escoamento do café no Brasil.
Além do impacto financeiro para os exportadores, a dificuldade de embarque compromete o fluxo de receita cambial do país. Em abril, o Brasil deixou de receber cerca de US$ 328,6 milhões (aproximadamente R$ 1,9 bilhão), considerando o preço médio FOB de US$ 445,47 por saca e a cotação média do dólar a R$ 5,78.
O diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron, destacou a importância dos investimentos anunciados pelo poder público em infraestrutura portuária — como o leilão do Tecon Santos 10, concessão do canal marítimo de entrada, túnel Santos-Guarujá e a terceira via da Rodovia Anchieta —, mas reforçou a necessidade de rapidez nas ações e criticou burocracias que podem atrasar os processos.
Heron alertou que restringir a participação no leilão do Tecon Santos 10, especialmente excluindo armadores, pode trazer judicializações e atrasar ainda mais as melhorias necessárias, ampliando os prejuízos dos exportadores.
O dirigente também lembrou que o produtor brasileiro de café sofre diretamente com esses entraves, pois o Brasil é o país que mais repassa o preço FOB da exportação ao cafeicultor — cerca de 88,3% para o arábica e 96,5% para o conilon e robusta. Com o bloqueio das exportações, esse repasse deixa de ocorrer, prejudicando toda a cadeia produtiva.
Segundo o boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela startup ElloX Digital em parceria com o Cecafé, 56% dos navios que transportam café nos principais portos do país sofreram atrasos ou alterações de escala em abril. No Porto de Santos, principal ponto de embarque, 58% das embarcações enfrentaram problemas, com esperas que chegaram a 31 dias. Já no Rio de Janeiro, o índice de atrasos foi ainda maior, atingindo 67%.
Para tentar mitigar esses problemas, o Cecafé mantém diálogo constante com autoridades portuárias, ministérios e agências reguladoras, buscando soluções emergenciais para otimizar o fluxo nos portos e reduzir os prejuízos do setor.