Quando a primeira COP foi realizada em Berlim em 1995, o Brasil era visto como um ator secundário nas discussões climáticas globais. Trinta anos depois, ao sediar a COP30 em Belém, o país chega com uma posição paradoxal: avanços mensuráveis, mas insuficientes para o tamanho dos desafios que enfrenta. Os números recentes mostram uma realidade complexa. A redução de 50% no desmatamento nos últimos dois anos - após picos históricos no período anterior - ainda mantém a taxa acima dos níveis ideais.
A matriz energética, embora majoritariamente renovável (85%), segue dependente de hidrelétricas com impactos socioambientais questionáveis e avança lentamente em eólica e solar. O Acordo de Paris, marco da COP21, estabeleceu metas claras que o Brasil revisou três vezes - um sinal da dificuldade em conciliar desenvolvimento econômico e compromissos climáticos.
A saída dos EUA do acordo em 2021 fragilizou o mecanismo de financiamento global, deixando países em desenvolvimento como o Brasil em posição ainda mais vulnerável. A COP30 ocorre em um momento crítico: O mecanismo de créditos de carbono brasileiro, embora promissor, ainda não demonstrou escala suficiente. A bioeconomia amazônica avança em ritmo muito inferior ao necessário.
Os US$ 300 bilhões anuais aprovados na COP29 se mostram insuficientes diante das necessidades, alertam que sediar a conferência na Amazônia traz tanto oportunidades quanto riscos. O Brasil terá que explicar por que, mesmo com tecnologia e conhecimento, ainda convive com taxas altas de desmatamento ilegal.
Trinta anos após a primeira COP, o Brasil chega à conferência de Belém com uma lição clara: ter uma floresta tropical gigantesca não é o mesmo que saber protegê-la. E sediar uma cúpula climática está longe de significar ter resolvido seus próprios dilemas ambientais. A verdadeira prova começará quando as delegações internacionais partirem e os compromissos precisarem virar realidade no dia a dia da política e da economia brasileiras.