China e EUA podem negociar um acordo que prejudica o Agronegócio brasileiro

No meio do embate comercial entre as duas maiores potências do mundo, vejo o Brasil diante de uma encruzilhada que pode afetar profundamente nossas exportações do campo

Fred Almeida - Com informações do Estadão
08/05/2025 09h27 - Atualizado há 10 horas
China e EUA podem negociar um acordo que prejudica o Agronegócio brasileiro
Foto: reprodução

Acompanhamos com atenção cada passo das negociações comerciais entre Estados Unidos e China. Não é apenas um embate entre gigantes; é um jogo que, dependendo dos acordos firmados, pode colocar em risco uma das principais fortalezas da economia brasileira: o agronegócio. Ao observar os movimentos de bastidores e as análises de especialistas, é possível observar nas entrelinhas, um cenário em que o Brasil pode acabar perdendo espaço nos mercados internacionais.

É preciso voltar no tempo e se lembrar do acordo conhecido como “Fase 1”, assinado entre os dois países em janeiro de 2020. Na ocasião, a China se comprometeu a aumentar suas compras de produtos agropecuários dos EUA, especialmente soja e carne. Na prática, isso foi um baque para nossos produtores, que viram parte do mercado chinês ser redirecionada para os norte-americanos. A ex-assessora do Ministério da Agricultura Larissa Wachholz foi uma das vozes que alertaram para esse risco. E, agora, volta a levantar a bandeira da cautela.

Roberto Azêvedo, que comandou a Organização Mundial do Comércio (OMC), também nos faz refletir. Ele afirma que, mesmo que o Brasil esteja, no momento, colhendo frutos das tensões comerciais entre as duas potências, tudo pode mudar rapidamente. Basta que Washington e Pequim encontrem um meio-termo, e os termos desse entendimento podem nos empurrar para escanteio.

Vemos que, em meio à guerra tarifária entre eles, o Brasil ocupou posições estratégicas no fornecimento de commodities agrícolas. No entanto, esse lugar de destaque não está garantido. Se os chineses decidirem comprar mais dos EUA como parte de um novo tratado, o impacto será direto: queda nas exportações, pressão sobre os preços internos e, possivelmente, retração na produção rural brasileira.

É por isso que é necessário que o governo brasileiro atue com estratégia e diplomacia. Não basta reagir depois do prejuízo; é preciso prever os cenários e diversificar os mercados. Temos qualidade, volume e reputação. Mas precisamos agir com agilidade para não sermos atropelados pelos acordos alheios.

Quando dois gigantes negociam, quem fica no meio pode sair esmagado. Neste caso, é o nosso campo, é o nosso agro, nosso país.

 


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