O aguardado encontro entre representantes dos governos da China e dos Estados Unidos, marcado para este sábado em Genebra, na Suíça, reacende as esperanças do mercado internacional por um possível acordo que amenize as tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo. A reunião, classificada por analistas como um "quebra-gelo", está sendo acompanhada com atenção redobrada por investidores e pelo setor de commodities agrícolas, especialmente os ligados à soja, ao milho e às carnes.
Embora o mercado financeiro global tenha reagido com discreta alta — reflexo da confirmação do encontro —, prevalece um otimismo contido. A declaração inicial do presidente americano Donald Trump, afirmando que não pretende reduzir as tarifas sobre produtos chineses neste momento, trouxe uma dose de realismo ao cenário. A comitiva dos EUA será liderada pelo Secretário do Tesouro, Scott Bessent, e pelo Representante do Comércio, Jamieson Greer. Do lado chinês, o vice-primeiro-ministro He Lifeng representará Pequim.
Segundo a agência Bloomberg, as tensões entre os dois países seguem latentes, incluindo divergências sobre quem iniciou o processo de diálogo. A disputa comercial vem em um momento delicado para ambas as economias: os EUA enfrentam retração no início do ano e a China encara a pior contração industrial desde dezembro de 2023.
Analistas
Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócio, acredita que o acordo é possível e deve ser mais célere do que o firmado durante o primeiro mandato de Trump. Para ele, a imposição mútua de tarifas paralisou as trocas comerciais, o que deve forçar um entendimento. Sobre a soja, ele projeta alta nos preços futuros e queda nos prêmios dos portos brasileiros, caso o acordo avance.
Ronaldo Fernandes, da Royal Rural, vê o mercado mais experiente diante de uma negociação desse tipo. “Não foi uma reação extraordinária, mas existe expectativa”, diz. Ele lembra que, caso a China seja pressionada a comprar volumes maiores de commodities dos EUA, o impacto direto será sentido no Brasil, com redução nos prêmios. No entanto, pondera que “o mercado é uma maratona, não um sprint”, e tende a se ajustar com o tempo.
Fernando Pimentel, da Agrometrika, está cético quanto ao cumprimento de eventuais cotas de compras agrícolas por parte da China, como ocorreu em 2018. Ele alerta para a complexidade das negociações atuais, que incluem aspectos cambiais e estratégias protecionistas chinesas. “Acredito que vai demorar mais tempo, a China vai jogar com o tempo sobre o Trump”, afirma.
Ginaldo Sousa, do Grupo Labhoro, também é cético quanto aos efeitos imediatos do encontro. “Vai sair muito pouco disso”, diz, destacando que, mesmo com eventuais reduções de tarifas, o nível ainda seria elevado. Para ele, novas rodadas de negociações serão necessárias até um desfecho definitivo.
Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, reforça que o simples fato de haver diálogo já é positivo. “Se houver algum acerto, o mercado pode ultrapassar os US$ 10,50. Se não, deve se manter estável”, comenta, destacando que o nível atual gira em torno dos US$ 10,20, o custo de produção nos EUA.
Brasil
Caso o acordo caminhe para um redirecionamento das compras chinesas em direção aos Estados Unidos, o agronegócio brasileiro poderá sentir impactos negativos de curto prazo, especialmente na soja. Ainda assim, especialistas lembram que o Brasil é um fornecedor estratégico de alimentos, e que o equilíbrio da oferta e da demanda globais tende a se restabelecer com o tempo.
A reunião deste sábado marca o início de um processo que promete ser longo e complexo. O mundo estará atento a Genebra, mas, como lembram os analistas, não se deve esperar soluções imediatas.