O pasto é o alicerce da pecuária eficiente. Dele depende não apenas a alimentação do gado, mas também a produtividade e a sustentabilidade econômica da propriedade. No entanto, muitos produtores ainda gerenciam suas pastagens com base em intuição ou práticas tradicionais, sem considerar que a qualidade do pasto varia constantemente devido a fatores como clima, manejo e tipo de solo. Monitorar a qualidade da pastagem é uma ferramenta poderosa para garantir que o gado tenha acesso a forragem de qualidade no momento ideal, maximizando o ganho de peso e a eficiência do sistema. Quando colhemos o pasto no ponto certo, nem cedo demais, quando a planta ainda não atingiu seu pico de produção, nem tarde, quando já perdeu valor nutritivo, transformamos a pastagem em um recurso de alto desempenho, capaz de produzir mais arrobas por hectare.
Conhecer a qualidade da pastagem vai além de observar a altura ou a densidade do capim. Envolve entender o valor nutricional, a digestibilidade e a capacidade de suporte do pasto, que determinam quanto peso o animal pode ganhar em um dado período e quantos animais aquela área suporta. Ferramentas como análise bromatológica, NIRS, avaliação de biomassa e até tecnologias como imagens de satélite e drones permitem ao produtor tomar decisões baseadas em dados concretos.
O manejo adequado começa com a definição do momento de entrada e saída dos animais no pasto. Entrar cedo demais compromete a produção e rebrota da planta, enquanto deixar os animais por tempo excessivo leva à superpastejo, degradando a forrageira e diminuindo a longevidade do pasto. Um indicador prático é a altura do capim: para a maioria das braquiárias, por exemplo, a entrada deve ocorrer quando o pasto atinge cerca de 25 a 35 cm, e a saída, quando está entre 15 e 20 cm.
Um aspecto crucial para a qualidade da pastagem é a composição morfológica da planta, especialmente a proporção de folhas, que são a parte mais nutritiva do capim. As folhas, ricas em proteína bruta e altamente digestíveis, podem representar até 70% do valor nutricional de forrageiras como a braquiária quando colhidas no momento ideal. Em contrapartida, a presença de hastes e folhas mortas reduz significativamente o valor nutritivo, pois esses componentes têm maior teor de fibra e menor digestibilidade, comprometendo o ganho de peso do gado. Plantas colhidas acima de 95% de interceptação luminosa, ponto em que a luz é quase totalmente captada pelas folhas, perdem qualidade rapidamente devido ao acúmulo de hastes e material senescido. Nesse estágio, a proporção de folhas diminui, e o pasto se torna mais lignificado, reduzindo a digestibilidade e o desempenho animal. Monitorar a composição morfológica e ajustar o pastejo para priorizar o consumo de folhas no pico de qualidade é essencial para maximizar a eficiência da pastagem.
A qualidade da pastagem impacta o ganho médio diário (GMD) de bovinos em sistema a pasto (Tabela 1). Forrageiras colhidas no momento ideal apresentam melhor composição morfológica, mais folhas e tecidos vegetais mais jovens e menos lignificados. O conhecimento da fisiologia das plantas trabalhadas permite ajustar melhor o momento de colocar e retirar animais da área a ser pastejada. Pastagens de alta qualidade, colhidas no momento certo, podem dobrar ou até triplicar o GMD em comparação com pastos mal manejados. Isso significa maiores ganhos por hectare em menos tempo, reduzindo custos com suplementação e aumentando a rentabilidade.
Tabela 1 - Relação entre Altura da Pastagem, Qualidade da Forragem e Desempenho Animal em Capim Marandu (Alencar et al, 2014).
Nesse estudo, o capim Marandu em sistema rotacionado, com diferentes alturas de pré-pastejo (antes da entrada dos animais), a altura de 35 cm foi identificada como ideal, correspondendo a 95% de interceptação luminosa, maximizando a qualidade da forragem, com proteína bruta em torno de 10-12% e digestibilidade de 55-60% e o desempenho animal, com GMD de 0,6-0,8 kg/dia e taxa de lotação de até 6,0 UA/ha. Alturas menores (25 cm) indicam pastagens mais jovens, com maior proteína, mas menor biomassa, enquanto alturas maiores (45 cm) resultam em forragem mais fibrosa, com menor valor nutritivo e GMD reduzido.
O caminho para mais arrobas por hectare passa por um olhar atento à pastagem. Conhecer sua qualidade, ajustar o momento de colheita e investir em manejo e fertilidade são passos que transformam o pasto em um motor de lucratividade. A pecuária eficiente não depende de soluções mirabolantes, mas de práticas consistentes que respeitam a biologia do capim e as necessidades do gado. Ao monitorar e manejar bem suas pastagens, o produtor não só aumenta a produtividade, mas também garante a sustentabilidade do seu negócio por muitos anos.