Mais Arrobas regenerando o solo
Foto: João Menezes
A pecuária moderna tem sido protagonista de uma transformação silenciosa e profunda no campo brasileiro. Por muito tempo apontada como vilã ambiental, ela hoje se apresenta como uma aliada da sustentabilidade, desde que conduzida com base em princípios técnicos e práticas bem definidas. Entre essas, destaca-se uma premissa fundamental: a recuperação e o manejo adequado da fertilidade do solo como base para a produção de arrobas com eficiência. Solos vivos, férteis e estruturados sustentam pastagens vigorosas, que por sua vez mantêm rebanhos produtivos e sistemas mais lucrativos. É neste ciclo virtuoso que reside o caminho da pecuária eficiente que respeita os limites do ambiente ao mesmo tempo em que extrai o máximo do seu potencial produtivo.
Nas últimas três décadas, a aplicação de tecnologias voltadas ao solo e ao manejo forrageiro mudou a paisagem da pecuária nacional. Com uma redução significativa da área ocupada pela atividade, o rebanho cresceu, e a produção de carne aumentou. Pastagens mais bem manejadas, novas cultivares forrageiras, maior conhecimento zootécnico, uso estratégico da adubação e, principalmente, ações direcionadas à recuperação da fertilidade dos solos. Nesse cenário, a Integração Lavoura-Pecuária (ILP) se destaca como uma ferramenta transformadora: ao alternar culturas agrícolas com pastagens, recupera-se a matéria orgânica, equilibra-se o perfil químico e biológico do solo e amplia-se o uso eficiente da terra.
A dimensão desse desafio é grande. Estima-se que 59,6% dos solos brasileiros apresentam algum nível de degradação. Globalmente, cerca de 70% das pastagens estão em condição semelhante. Esse panorama compromete a produtividade, o armazenamento de água, o sequestro de carbono e a longevidade dos sistemas de produção. Mas é também nesse cenário que reside uma das maiores oportunidades da agropecuária brasileira: recuperar esses solos, transformando áreas improdutivas em fontes renovadas de arrobas e renda. Com solo fértil, a capacidade de suporte aumenta, o ganho de peso por hectare cresce e os sistemas tornam-se mais resilientes, mesmo em períodos críticos de clima.
Para isso, algumas práticas são fundamentais. O pastejo rotacionado, por exemplo, permite o descanso do capim e o acúmulo de reservas no solo. O uso de forrageiras adaptadas à região e ao tipo de solo promove maior cobertura vegetal, enquanto a adubação bem orientada, com base em análise de solos, devolve nutrientes essenciais às plantas. A ILP, além de recuperar a fertilidade física e química do solo, melhora a microbiota, que é peça-chave na ciclagem de nutrientes e na estabilidade do ecossistema produtivo. O resultado é um solo mais estruturado, com maior retenção hídrica e maior eficiência na conversão da forragem em carne (Tabela 1).
Tabela 1 - Principais benefícios produtivos e ambientais das práticas adotadas pela pecuária eficiente.
Essas ações também promovem resultados sociais e econômicos relevantes. Solos recuperados e produtivos permitem o aumento do número de animais por hectare e, com isso, a produção de arrobas se intensifica sem necessidade de abertura de novas áreas. O produtor passa a gastar menos com renovação de pastagens e vê seu sistema ganhar escala e previsibilidade. Com orientação técnica adequada e acesso a linhas de crédito voltadas à recuperação de pastagens, o custo de implementação dessas práticas pode ser diluído rapidamente com os ganhos em produtividade.
No fim das contas, investir no solo é investir no futuro da propriedade. A pecuária eficiente demonstra que é possível produzir mais e melhor com os mesmos recursos, desde que haja conhecimento, planejamento e comprometimento com a base do sistema: o solo. É ele quem define o potencial das pastagens e, consequentemente, a capacidade de produzir arrobas com menor custo e maior retorno. Para técnicos e pecuaristas, olhar para o chão é olhar para os resultados. Recuperar a fertilidade, manejar com inteligência e respeitar os ciclos naturais é o que transforma a terra em alimento, renda e permanência do produtor no campo.
O caminho da pecuária eficiente passa por práticas que aumentam a produção sem ampliar a área, recuperam solos empobrecidos e geram impacto positivo ambiental e econômico. Mais do que uma tendência, trata-se de uma estratégia de sobrevivência e competitividade. Recuperar o solo é, antes de tudo, garantir mais arrobas, com mais eficiência, responsabilidade e futuro.