Safra 2025 de café enfrenta bienalidade baixa e clima adverso, mas conilon deve compensar parte das perdas

Produção nacional pode cair até 12% no arábica, enquanto conilon ganha força; cenário de estoques baixos e demanda firme pressiona preços e gera incerteza no mercado

- Da Redação, com Notícias Agrícolas
14/04/2025 09h03 - Atualizado há 2 dias
Safra 2025 de café enfrenta bienalidade baixa e clima adverso, mas conilon deve compensar parte das perdas
Foto: reprodução

O Brasil deve colher uma safra de café mais enxuta em 2025. A expectativa é de queda significativa na produção de café arábica devido ao ciclo de baixa da bienalidade e aos efeitos do estresse hídrico e das altas temperaturas registradas em 2024, especialmente durante a fase de floração. As projeções apontam para uma oferta mais restrita no principal país produtor mundial, em um cenário de estoques baixos e demanda internacional aquecida.
 

Segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a safra 2025/26 deverá somar 51,8 milhões de sacas beneficiadas, representando uma queda de 4,4% em relação ao ciclo anterior. A produção de arábica deve recuar 12,4%, totalizando 34,7 milhões de sacas, com destaque para a queda em Minas Gerais. Já o conilon (robusta) deve crescer 17,2%, com 17,1 milhões de sacas, puxado principalmente pelo bom desempenho das lavouras no Espírito Santo.
 

Estimativas da consultoria StoneX projetam números ainda mais altos: 64,5 milhões de sacas, com 38,7 milhões de arábica (queda de 13,5%) e 25,8 milhões de conilon (aumento de 21,9%). A redução na produtividade, além das condições climáticas desfavoráveis, também é atribuída ao aumento nas podas, o que compromete o potencial produtivo.
 

A Cooxupé, maior cooperativa de cafeicultores de arábica do país, projeta receber cerca de 5,6 milhões de sacas em 2025 — quase 10% a menos que no ano anterior. “Mesmo com investimento alto em tratos culturais e bons preços, o clima pesou”, afirmou Carlos Augusto Rodrigues de Melo, presidente da cooperativa.
 

Por outro lado, o conilon tem perspectiva positiva. Luiz Carlos Bastianello, presidente da Cooabriel, prevê colheita antecipada e lavouras bem carregadas: “O clima ajudou bastante. Alguns produtores devem iniciar a colheita no fim de abril, especialmente os que plantaram clones de maturação precoce.”
 

No entanto, o mercado global de café pode enfrentar um desequilíbrio. Marcus Magalhães, diretor da MM Cafés, alerta que mesmo os cenários mais otimistas indicam um déficit entre 5 e 8 milhões de sacas em relação à demanda global. “Entraremos em 2026 com estoques comprometidos, o que pode levar os preços a patamares ainda mais elevados.”
 

Haroldo Bonfá, da Pharos Consultoria, lembra que os estoques brasileiros estão praticamente esgotados após exportações recordes de 45 milhões de sacas em 2024. “Se exportarmos muito em cima de uma safra menor, a pressão sobre 2026 será ainda maior, e isso se refletirá nos preços futuros”, disse.
 

A combinação entre oferta reduzida, estoques baixos e demanda firme já provocou forte volatilidade no mercado futuro. Em fevereiro, os contratos do café arábica na Bolsa de Nova York chegaram a níveis recordes. Segundo o Itaú BBA, os preços subiram 4,4% entre fevereiro e março, acumulando alta de cerca de 70% em 2024, o melhor desempenho entre as commodities agrícolas.
 

Apesar da valorização, o mercado já começa a precificar a quebra da safra. Para Simão Pedro de Lima, presidente da Expocacer, isso pode trazer equilíbrio: “A entrada da nova safra movimenta o mercado e ajuda a repor estoques, mas só voltaremos a ter estoques maiores com uma safra mais robusta.”
 

Já o presidente da ABIC, Pavel Cardoso, destaca que o setor está há quatro anos convivendo com colheitas frustradas. “A escalada nos preços se deve, em grande parte, à atuação de fundos especulativos diante do descompasso entre oferta e demanda. Uma safra mais equilibrada pode ajudar a estabilizar os preços, mas não a retornar aos níveis de 18 meses atrás.”

 

 


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