A soja brasileira vive um dos momentos mais aquecidos do comércio global. Somente nesta semana, a China comprou mais de 60 navios carregados exclusivamente com soja do Brasil — um recorde absoluto para o período. A movimentação intensa ocorre em meio à guerra comercial entre China e Estados Unidos, que fortaleceu a posição do Brasil como principal fornecedor do grão para os chineses.
Segundo o analista Eduardo Vanin, diretor da Agrinvest Commodities, trata-se de um volume histórico, ainda mais expressivo por vir de uma única origem e de uma safra só. “É um grande número. Em outubro do ano passado, tivemos semanas com mais de 60 barcos, mas divididos entre EUA e Brasil”, destacou Vanin durante live da consultoria.
A alta nos negócios é resultado de uma “tempestade perfeita”: dólar valorizado, prêmios ainda positivos, boas cotações na Bolsa de Chicago e a necessidade dos produtores brasileiros de fechar vendas em abril, mês estratégico para o pagamento de contas. Somente nas últimas duas semanas, o chamado farmer selling ultrapassou 10 milhões de toneladas. O mês de abril deve terminar como o melhor da história para a soja brasileira, superando o recorde anterior de 13,5 milhões de toneladas, registrado em 2024.
Outro fator relevante é a melhora nas margens de esmagamento na China, o que aumentou a disposição de compra dos chineses. Em abril, o país asiático vendeu 2,2 milhões de toneladas de farelo, o dobro do registrado em março. “O produtor precisava vender, o chinês queria comprar, e as tradings estavam lucrando com a operação. As três pontas felizes — isso é raro”, comentou Vanin.
O resultado prático é que a safra 2024/25 já tem cerca de 100 milhões de toneladas comercializadas, de um total estimado em quase 170 milhões. A comercialização da próxima safra também está adiantada, o que, segundo o consultor Vlamir Brandalizze, é importante diante da possível alta nos preços dos insumos agrícolas.
Apesar da euforia, os prêmios da soja recuaram até 50 pontos nesta semana, após atingirem o pico da temporada. A possibilidade de um acordo entre China e Estados Unidos pode pressionar ainda mais os prêmios. “As tarifas continuam altas, e o diálogo ainda é difícil, mas qualquer sinal de avanço nas conversas pode movimentar o mercado e manter a soja acima dos US$ 10 por bushel”, analisou Brandalizze.