Guerra comercial entre China e EUA pode virar acordo e ameaçar o agro brasileiro

Para Larissa Wachholz, ex-assessora do Ministério da Agricultura, eventual reaproximação entre as potências pode forçar redirecionamento de compras chinesas e afetar exportações do Brasil

- Da Redação, com Canal Rural
14/04/2025 08h34 - Atualizado há 1 dia
Guerra comercial entre China e EUA pode virar acordo e ameaçar o agro brasileiro
Foto: reprodução

A escalada da guerra tarifária entre Estados Unidos e China, longe de significar uma ruptura duradoura, pode ser, na verdade, o prenúncio de uma reaproximação — com impactos diretos e negativos para o agronegócio brasileiro. A avaliação é da diretora-executiva da Vallya Agro, Larissa Wachholz, especialista em relações comerciais com o gigante asiático e ex-assessora especial do Ministério da Agricultura para assuntos relacionados à China.

Segundo Wachholz, a imposição mútua de tarifas — hoje em 125% por parte dos EUA e 84% do lado chinês — torna o cenário insustentável a longo prazo, dada a forte interdependência econômica entre as duas maiores economias do mundo. “Quanto mais se intensifica essa guerra tarifária, mais perto os dois países estão de sentar para negociar. E isso deve acontecer”, afirma a especialista, que viveu na China por cinco anos e acompanha de perto o mercado asiático.
 

Essa possível retomada das conversas preocupa o Brasil, maior exportador de grãos e carnes para o mercado chinês. Wachholz lembra que, em 2020, um acordo semelhante — conhecido como “Fase 1” — estabeleceu compromissos de compra chineses em favor dos produtos agropecuários dos Estados Unidos. Embora o tratado tenha sido impactado pela pandemia de covid-19, um novo acerto nos mesmos moldes pode novamente colocar o agronegócio brasileiro em posição delicada.
 

“O agronegócio vai estar, inevitavelmente, na mesa de negociações. A China poderá voltar a comprar mais dos EUA, o que pode significar menos compras do Brasil. Não por perda de qualidade ou competitividade, mas por decisão política e estratégica”, explica.
 

Ela destaca que Brasil e Estados Unidos exportam praticamente os mesmos produtos alimentares para a China — como soja, milho e carne bovina — e que essa sobreposição acirra a competição entre os dois. “Estamos disputando o mesmo mercado, e isso exige cautela do Brasil. O agro precisa estar atento a esses desdobramentos”, diz.
 

Mesmo com o Brasil sendo hoje o principal fornecedor de alimentos para a China, respondendo por cerca de 20% das importações agropecuárias chinesas — contra 7% dos Estados Unidos —, Wachholz acredita que um eventual novo acordo pode obrigar o governo chinês a redirecionar parte dessas compras.
 

A especialista vê no comportamento político e econômico da China sinais de que um entendimento é apenas questão de tempo. “A China não tem interesse em manter um conflito tarifário permanente. Ela é o principal parceiro comercial de 140 países e depende de estabilidade para continuar crescendo”, analisa.
 

Sobre o tempo necessário para que esse entendimento aconteça, Wachholz aponta que será uma questão de pressão interna. “Vai depender de como a sociedade americana vai reagir à inflação e de quanto as empresas, sobretudo as multinacionais do agro, vão suportar esse cenário antes de pressionar o governo Trump a negociar”, observa.

Desde a primeira guerra tarifária com os EUA, a China já diversificou seus fornecedores e compradores, o que diminuiu sua vulnerabilidade. No entanto, as relações comerciais entre as duas potências continuam densas e complexas. “Ainda que os EUA tenham perdido espaço, a conexão econômica entre os dois é enorme. Um acordo é difícil, mas inevitável”, conclui Wachholz.

 

 


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