Trump taxa o mundo; Brasil entre riscos e oportunidades

Fred Almeida - Com informações da BBC
10/04/2025 09h04 - Atualizado há 1 semana
Trump taxa o mundo; Brasil entre riscos e oportunidades
Foto: Alan Santos /PR

Desde que Donald Trump voltou à Casa Branca e anunciou seu tarifaço global, o mundo todo entrou em alerta. A princípio, havia o temor pelo pior: que o Brasil seria um dos alvos principais desse novo capítulo protecionista dos Estados Unidos. Mas, com o anúncio oficial, vejo um certo alívio — estamos entre os países menos afetados, com uma alíquota extra de 10%.

Sim, é uma tarifa. Vai tornar nossos produtos mais caros para empresas e consumidores americanos. Mas, quando comparo com os 26% impostos à Índia, 24% ao Japão, 20% à União Europeia e impressionantes 125% à China, percebo que o Brasil saiu relativamente bem nessa história.

A situação é delicada. A guerra comercial já provoca quedas nas bolsas, alta do dólar e muita incerteza nos mercados. Para o Brasil, os impactos não são fáceis de prever. Há mais riscos do que benefícios à primeira vista, mas também vejo brechas que podem se tornar oportunidades reais.

Por exemplo, a retaliação da China às tarifas americanas — com taxas de até 34% sobre produtos dos EUA — pode abrir espaço para que o Brasil aumente suas vendas ao gigante asiático. Já vimos isso antes, no primeiro mandato de Trump, quando nossas exportações de soja dispararam. Agora, com o acordo recente de sorgo entre Brasil e China, temos chance de expandir esse mercado também.

Mas existem muitas variáveis que podem conduzir a um outro caminho nas relações entre Estados Unidos e China. Setores do governo americano sugerem que se a China voltar à negociação, uma das reivindicações de Trump será o fim da retaliação ao agro-norte-americano. Nesse caso, poderá ser um problema e não uma solução às commodities brasileiras. 

Além disso, a nova onda de protecionismo pode acelerar a implementação do acordo Mercosul-União Europeia. O contexto internacional mudou. Se os europeus enxergarem no Brasil um parceiro estratégico em meio ao isolamento americano, talvez o tratado finalmente saia do papel. Não é simples — a França ainda resiste, preocupada com seu setor agropecuário — mas há uma movimentação política em curso.

Outro ponto importante: a cotação do dólar. Depois de bater R$ 6,26 em 2024, a moeda vem recuando. Se essa tendência se mantiver, poderemos ter alívio na inflação. Um câmbio mais favorável barateia importações e reduz a pressão sobre os preços internos. Isso seria muito bem-vindo, num cenário em que o Banco Central ainda enfrenta dilemas com os juros altos. No entanto, não foi o que vimos no começo desta semana, com dólar se valorizando agressivamente frente ao Real. 

Claro que nem tudo é vantagem. A tarifa de 25% sobre aço e alumínio afeta diretamente um dos nossos principais setores exportadores. O mesmo vale para autopeças. E Trump ainda estuda novas taxações, como para cobre e madeira — produtos que também têm peso na nossa balança comercial.

Vejo que o saldo final ainda é incerto. O mundo está mais instável, menos previsível. Mas, se o Brasil souber se posicionar, pode sair ganhando em meio ao caos. Não por oportunismo, mas por estratégia. O futuro está em aberto — e cabe a nós fazer dele uma chance

 


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