Em fevereiro, duas commodities que têm no Brasil seu maior fornecedor mundial se destacaram nas bolsas internacionais, com altas e quedas expressivas. O café voltou a bater recordes, enquanto o suco de laranja apresentou uma queda significativa.
O café atingiu um preço médio de US$ 3,9438 por libra-peso na bolsa de Nova York, representando uma alta mensal de 18,78%, conforme dados do Valor Data. Em 12 meses, o aumento acumulado foi de 112,18%. A subida dos preços foi impulsionada pela oferta menor, devido aos impactos climáticos sobre a safra brasileira, e pela falta de sinais de queda na demanda global. Haroldo Bonfá, diretor da Pharos Consultoria, explica que o preço do café também foi afetado pelas ondas de calor que atingiram as áreas produtoras do Brasil e pelo ritmo reduzido das exportações, o que contribui para o déficit esperado na oferta neste ano.
“Há dois meses, o Brasil só embarca o café que tinha sido previamente negociado. O volume disponível para embarque é muito pequeno, e até a entrada da safra, em junho, continuaremos apertados”, afirma Bonfá. Segundo ele, se esse cenário persistir, novos recordes para o preço do café em Nova York podem ser alcançados. No dia 13 de fevereiro, os futuros do grão atingiram US$ 4,3890 por libra-peso.
Esse quadro de oferta apertada também afetou as cotações no mercado interno, contribuindo para o aumento do preço do café e sua participação como vilão da inflação nos últimos meses. A Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) projeta uma alta de até 30% nos próximos dois meses.
Por outro lado, o suco de laranja concentrado congelado sofreu uma queda de 24,25% em Nova York, com preço médio de US$ 3,6091 por libra-peso. Essa baixa reflete as perspectivas favoráveis para a safra 2025/26 no Brasil, após preocupações iniciais com o clima. Andres Padilla, analista do Rabobank, destaca que os pomares estão bem carregados devido às chuvas de outubro, e os produtores, com margens altas, aumentaram os investimentos em defensivos e adubação. A expectativa é de uma safra mais robusta em 2025/26, podendo chegar a até 290 milhões de caixas.
O Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) projeta que a safra 2024/25 no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo e Sudoeste Mineiro será de 228,52 milhões de caixas. A projeção para o novo ciclo será divulgada em maio.
O açúcar, outro produto em que o Brasil lidera a exportação, subiu 6,27% em fevereiro, atingindo um preço médio de 18,81 centavos de dólar por libra-peso. A alta foi impulsionada pela redução nas estimativas de produção na Índia e pela menor quantidade de chuvas no Centro-Sul do Brasil, segundo Marcelo Filho, analista da StoneX.
Já o cacau, que havia registrado altas expressivas no início do ano, entrou em tendência de queda, apesar de ainda manter patamares elevados, após o retorno das chuvas nas regiões produtoras do oeste africano. Em fevereiro, a cotação caiu 7,72%, com preço médio de US$ 9.994 por tonelada. O mercado de algodão também teve recuo de 1,65%, com preço médio de 67,51 centavos de dólar por libra-peso.
Nos grãos, o destaque foi o trigo, que subiu 5,92% em fevereiro, devido às condições climáticas adversas em áreas produtoras-chave, como os EUA. O temor com a safra de inverno nos EUA, que foi plantada no fim do ano passado, levou os preços a alcançar uma máxima de US$ 6,09 por bushel, conforme Élcio Bento, analista da Safras&Mercado. A alta no trigo também pode afetar a inflação no Brasil, que depende de importações do cereal.
O milho, influenciado pela alta do trigo e pela demanda crescente, subiu 3,24%, com preço médio de US$ 5,0103 por bushel. A seca na Argentina e a demanda no mercado americano, especialmente para abastecer a indústria de etanol e o setor de proteína animal, impulsionaram os preços.
A soja, por sua vez, fechou o mês com alta de 1,51%, apesar da evolução mais lenta da safra brasileira. As chuvas excessivas foram substituídas por tempo firme, o que ajudou a acelerar a colheita. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a colheita atingiu 36,4% da área até o dia 23 de fevereiro, contra 38% no ano passado.
Leonardo Martini, analista de gestão de risco da StoneX, observa que, com a previsão de tempo firme nos primeiros dias de março, o atraso na colheita de soja e possíveis perdas no plantio do milho segunda safra não devem afetar significativamente o mercado.
Por fim, as tarifas de importação anunciadas pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump, adicionaram um fator de volatilidade ao mercado, embora a guerra comercial com a China não tenha se intensificado como esperado.