Planta nativa brasileira pode revolucionar o combate à cigarrinha-das-pastagens

Pesquisa da Embrapa identifica espécie resistente à praga, abrindo caminho para pastagens mais produtivas e sustentáveis

- Da Redação, com Canal Rural
25/02/2025 10h41 - Atualizado há 2 semanas
Planta nativa brasileira pode revolucionar o combate à cigarrinha-das-pastagens
Foto: Agência de Notícias - Embrapa

Um estudo conduzido pela Embrapa Pecuária Sudeste revelou que a Paspalum regnellii, uma planta forrageira nativa do Brasil, conhecida popularmente como macega-do-banhado, apresenta resistência natural à cigarrinha-das-pastagens (Mahanarva spectabilis), uma das pragas mais devastadoras para as pastagens tropicais. A descoberta, publicada na revista Plant Molecular Biology Reporter, pode reduzir significativamente os impactos econômicos e ambientais causados pelo inseto, além de impulsionar o desenvolvimento de cultivares mais produtivas e resistentes.
 

A pesquisa analisou dois genótipos da planta, BGP 248 e BGP 344, e constatou que o BGP 344 possui uma resposta mais rápida ao ataque da cigarrinha, aumentando a taxa de mortalidade das ninfas nos primeiros 21 dias de infestação. Esse genótipo demonstrou maior lignificação das raízes, o que dificulta a alimentação dos insetos, além de ativar vias metabólicas responsáveis pela produção de compostos defensivos. Já o BGP 248, embora também resistente, apresentou uma defesa mais lenta.
 

A cigarrinha-das-pastagens é responsável por prejuízos bilionários ao agronegócio brasileiro, danificando pastagens e afetando culturas como milho e cana-de-açúcar. A identificação de uma planta nativa com resistência natural à praga pode representar um avanço crucial no controle biológico, reduzindo a dependência de defensivos químicos, que trazem desafios ecológicos e econômicos.
 

Segundo Bianca Vigna, pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste, o objetivo não é lançar a Paspalum regnellii como cultivar, mas utilizá-la como base para cruzamentos genéticos que resultem em forrageiras mais produtivas e resistentes. "Nosso foco é obter materiais de maior qualidade nutricional e resistência à cigarrinha Mahanarva", afirmou.
 

Além disso, o estudo sugere que características moleculares e anatômicas da planta podem ser usadas como marcadores para a seleção de cultivares mais resistentes. A pesquisa também abre caminho para o uso de técnicas de biotecnologia, como a edição gênica, tanto para o Paspalum quanto para outras gramíneas forrageiras suscetíveis, como as braquiárias.
 

O Brasil, um dos maiores produtores mundiais de carne bovina, depende da qualidade das pastagens para manter a sustentabilidade da pecuária. Com a crescente preocupação ambiental e as restrições ao uso de defensivos químicos, o desenvolvimento de plantas mais resistentes torna-se essencial para garantir a produtividade e reduzir os impactos ambientais.
 

A Embrapa mantém um Banco de Germoplasma de Paspalum, que servirá de base para futuros programas de melhoramento genético. O próximo passo da pesquisa será aprofundar o estudo dos microRNAs envolvidos no processo de resistência do BGP 344, em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A expectativa é que esse conhecimento leve ao desenvolvimento de cultivares mais adaptadas às adversidades, beneficiando o setor agropecuário de forma sustentável.


 

 


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