Retorno de Trump: impactos e desafios para o agro e a economia brasileira

Protecionismo e os reflexos no agronegócio brasileiro após reeleição do presidente norte-americano

- Da Redação, com Globo Rural, Dinheiro Rural e Exame Agro
08/01/2025 15h00 - Atualizado há 1 semana
Retorno de Trump: impactos e desafios para o agro e a economia brasileira
Foto: Reprodução
A reeleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, que assume o cargo dia 20 de janeiro de 2025, traz consigo uma série de desafios e oportunidades para o Brasil, com destaque para o agronegócio, que segue como pilar da economia nacional. O retorno do republicano à Casa Branca intensifica o cenário de protecionismo econômico, e isso impactará diretamente os mercados globais, incluindo o brasileiro, particularmente no setor agrícola.
 
Durante seu primeiro mandato, Trump implementou uma política de forte protecionismo, buscando priorizar a produção interna dos Estados Unidos. Ao aplicar tarifas e promover incentivos ao agro americano, ele colocou o Brasil em uma posição desafiadora, já que o mercado norte-americano é um dos maiores compradores das commodities brasileiras, como soja, carne bovina e milho. Com sua postura agressiva, o ex-presidente forçou o Brasil a diversificar mercados, uma estratégia que ainda será crucial em sua reeleição.
 
Os impactos do protecionismo de Trump serão sentidos no agronegócio brasileiro, principalmente na concorrência com os Estados Unidos em mercados globais. Caso o republicano reforce sua postura tarifária e a guerra comercial com a China, o Brasil pode se beneficiar de brechas no mercado chinês. Em 2018, quando Trump impôs tarifas sobre a soja americana, o Brasil foi o principal beneficiário, tornando-se o maior fornecedor do grão à China. No entanto, o fortalecimento do agro dos EUA, com subsídios e medidas de apoio, coloca pressão sobre o Brasil para aumentar sua competitividade e buscar novos mercados comerciais.
 
Além disso, a política monetária nos EUA, caracterizada pelo aumento das taxas de juros e um ambiente fiscal mais restritivo, tem repercussões no Brasil, principalmente no setor de crédito agrícola. A recente elevação da Selic pelo Banco Central, que passou de 10,75% para 11,25% ao ano, é um reflexo das pressões externas e da necessidade de controlar a inflação em um cenário fiscal delicado. Esse aumento nos juros tem impacto direto no custo do crédito rural, tornando o financiamento agrícola mais caro e restringindo o acesso a recursos necessários para o setor.
 
Em relação ao comércio, a expectativa é que, caso Trump siga com suas medidas protecionistas, o Brasil consiga expandir sua participação no mercado chinês, o maior consumidor de soja mundial. A aposta é que o Brasil consiga tirar proveito das tensões comerciais entre EUA e China, mas a competição com os Estados Unidos exigirá estratégias mais agressivas para manter sua posição de liderança.
 
Para o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, o Brasil não pode se tornar refém da política comercial americana. "Devemos respeitar a postura protecionista de Trump, mas também precisamos fortalecer nossas relações com países do Sul Global, como Índia, China e países da África, onde a demanda por alimentos cresce de forma significativa", afirmou Fávaro. Essa diversificação é vista como uma maneira de mitigar os riscos de um cenário de dependência excessiva do mercado norte-americano.
 
O impacto das políticas de Trump sobre as exportações brasileiras também está diretamente relacionado à desvalorização do real, o que torna os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional. As empresas focadas no setor agrícola, como SLC Agrícola e BrasilAgro, podem se beneficiar com o aumento da demanda de mercados alternativos, em especial da China, que tem buscado alternativas à soja dos Estados Unidos.
 
Por fim, a elevação do custo do crédito no Brasil, devido à pressão externa e interna, exigirá políticas fiscais mais rígidas e uma disciplina financeira que garanta a resiliência do setor agrícola. O Brasil deve focar em fortalecer suas políticas de crédito rural, adaptando-se ao cenário de maior volatilidade econômica e mantendo sua competitividade no mercado global.

Notícias Relacionadas »