A estratégia de utilização de leguminosas em pastagens tem sido testada pela pesquisa tanto em consórcio como na recuperação do solo. Uma técnica que vem sendo adotada por alguns produtores é o plantio direto da leguminosa, usada como adubo verde, em sistema de plantio direto sobre a pastagem para melhorar a fertilidade. Uma das alternativas, o guandu (Cajanus cajan), pode ser usado como alimento para o gado na seca e como adubo verde no final desse período. Através do plantio direto no verão, há uma melhora da pastagem devido à fixação de nitrogênio pela leguminosa, que pode ser aproveitada na seca como um banco de proteína para os animais e, no início do verão, é utilizada, após roçada, como adubo verde para o capim.
A degradação das pastagens é um dos principais desafios enfrentados pela pecuária nacional. Cerca de 70% das pastagens no Brasil apresentam algum nível de degradação, o que afeta diretamente a produtividade animal e causa prejuízos ambientais, como a emissão de gases de efeito estufa e a perda de biodiversidade. Entre as estratégias recomendadas para a recuperação dessas áreas, o uso de adubos verdes, especialmente as leguminosas, tem se mostrado uma solução eficaz e sustentável.
O guandu, por ser uma leguminosa de crescimento rápido e alta capacidade de fixação biológica de nitrogênio, contribui significativamente para a melhoria da fertilidade do solo. A incorporação do guandu no sistema de pastagem pode aumentar os teores de matéria orgânica e a disponibilidade de nutrientes essenciais, como nitrogênio e fósforo, que são frequentemente deficientes em solos de pastagens degradadas. No sistema de plantio direto, o guandu é semeado diretamente sobre a pastagem em épocas estratégicas, como no final da época chuvosa. Durante o período seco, a leguminosa pode ser pastejada pelo gado, funcionando como um banco de proteína que melhora o desempenho dos animais em um período crítico do ano (Figura 1). Posteriormente, no início da nova estação chuvosa, o guandu pode ser roçado e deixado sobre o solo, atuando como adubo verde. Esse manejo proporciona uma ciclagem eficiente de nutrientes, favorecendo o crescimento vigoroso do capim e a recuperação da pastagem.
A biomassa produzida pelo guandu pode fixar entre 80 e 120 kg de nitrogênio por hectare ao longo de um ciclo, dependendo das condições climáticas e do manejo adotado. Esse nitrogênio é liberado gradualmente no solo, sendo aproveitado pelas gramíneas na nova fase de crescimento. Além disso, o sistema radicular profundo do guandu ajuda a descompactar o solo e a aumentar sua capacidade de infiltração de água, fatores essenciais para a recuperação de pastagens degradadas.
Outro benefício do uso do guandu como adubo verde é a redução da necessidade de fertilizantes químicos, resultando em menor custo de produção para o pecuarista e menor impacto ambiental. Essa técnica está alinhada aos princípios da intensificação sustentável, que busca aumentar a produtividade das pastagens de forma ambientalmente responsável e economicamente viável.
Para obter resultados efetivos, é fundamental o planejamento adequado do plantio do guandu, considerando aspectos como a escolha de cultivares adaptadas à região, a correção do solo e o manejo integrado da pastagem. O consórcio do guandu com gramíneas tropicais, como o capim-braquiária, proporciona uma recuperação mais rápida e duradoura da pastagem.
Portanto, a adoção do guandu como adubo verde e banco de proteína é uma estratégia de grande potencial para a recuperação de pastagens degradadas no Brasil. Além de promover melhorias na fertilidade do solo, essa prática contribui para o aumento da produtividade animal, a conservação ambiental e a sustentabilidade da atividade pecuária.