Após mais de duas décadas de negociações, o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia está prestes a ser concluído. A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, chegou na quinta-feira (5) a Montevidéu, Uruguai, onde participará de um encontro que pode anunciar a assinatura do tratado, que prevê redução de tarifas e acesso preferencial de commodities entre os blocos econômicos.
Rodrigo Lima, sócio-diretor da Agroicone, analisa que o principal benefício do acordo para o agronegócio brasileiro não está nos volumes de negócios, mas na facilidade de acesso ao mercado europeu. Um exemplo disso é a cota preferencial de 99 mil toneladas de carne bovina destinada ao Mercosul, das quais o Brasil poderá exportar 28,5 mil toneladas. “Esse volume é pequeno comparado às 2,2 milhões de toneladas que o Brasil exportou em 2023, mas representa um canal exclusivo para carne de alta qualidade no mercado europeu”, avalia Lima.
Além do comércio direto, o tratado trará benefícios adicionais, como a possibilidade de solucionar questões sanitárias, fitossanitárias e ambientais de forma bilateral, sem depender da Organização Mundial do Comércio (OMC). “A relação direta com os europeus pode acelerar negociações e resolver entraves técnicos, fortalecendo o posicionamento do agro brasileiro”, acrescenta o especialista.
Apesar das vantagens, Rodrigo Lima ressalta que o protecionismo europeu, liderado principalmente pela França, permanece como um desafio. “A União Europeia importa menos de 5% da carne que consome de fora do bloco. Isso mostra que o maior problema está no comércio interno entre os países membros, e não no Mercosul”, conclui. Ainda assim, o acesso preferencial ao mercado europeu é um avanço estratégico para o agronegócio do Brasil.
Hoje
O acordo, considerado o maior da história da UE em termos de redução de tarifas, pode ser anunciado hoje, sexta-feira, pelos chefes de Estado do Mercosul, após o fechamento dos últimos detalhes sobre questões ambientais e compras governamentais.
Geraldo Alckmin, vice-presidente do Brasil, deu as boas-vindas a Von der Leyen, destacando a importância do fortalecimento dos laços comerciais entre os dois blocos. "O Mercosul e a União Europeia nunca estiveram tão próximos de integrar nossos mercados e reafirmar nossos compromissos democráticos", escreveu Alckmin.
Apesar das manifestações contrárias, especialmente de agricultores europeus que temem a importação de commodities sul-americanas com padrões ambientais mais baixos, a expectativa é de que a UE aprove o acordo. A França tem sido um dos principais opositores, mas outros países, como a Alemanha, consideram o pacto essencial para diversificar o comércio da UE, especialmente após a crise com a Rússia e sua dependência da China.