Segundo informações da analista Lívea Coda, da Hedgepoint Global Markets, a safra global de açúcar encerrada em setembro de 2024 fechou com um superávit de 1,2 milhões de tonelada. A expectativa para o próximo ciclo, 2024/25, é de um novo superávit, estimado em 1,7 milhões de toneladas.
No entanto, esse grande quantia não foi suficiente para aliviar a tensão no mercado, que segue com estoques globais apertados e preços em tendência de alta. "Apesar do superávit, o baixo estoque/uso sugere que tanto origens como destinos devem buscar açúcar para reestoque, mantendo o fluxo comercial apertado e o viés de alta", destacou Coda.
O Brasil, principal fornecedor mundial, teve uma importante contribuição para os estoques globais na safra 2023/24, com uma produção expressiva no Centro-Sul do país. Contudo, as queimadas que atingiram o estado de São Paulo em agosto reduziram a projeção de produção para 39,6 milhões de toneladas, uma queda em relação às expectativas iniciais de 40,3 milhões de toneladas.
"Os incêndios e condições climáticas adversas têm levado a revisões para baixo na oferta do Centro-Sul", explicou Coda. Enquanto o Brasil enfrenta esse desafio, o Hemisfério Norte aponta para uma recuperação, com as safras da Índia e Tailândia sendo favorecidas pelas chuvas de monções.
Filipi Cardoso, especialista em inteligência de mercado, reforça que a recuperação da produção na Índia e Tailândia será fundamental para aliviar os estoques globais e manter o mercado em superávit. "Há uma perspectiva de crescimento nas safras da Índia e Tailândia, o que deve favorecer o alívio dos estoques, apesar dos problemas no Brasil", disse Cardoso.
Os desafios climáticos no Brasil, no entanto, não se limitam apenas às queimadas. A seca prolongada e as dificuldades na cristalização da cana queimada devem direcionar uma maior parte da matéria-prima para a produção de etanol, comprometendo o mix de açúcar.
"A grande maioria da cana atingida pelos incêndios foi destinada à produção de etanol, devido à dificuldade de cristalização", observou Cardoso. Ele também alertou para possíveis perdas na próxima safra, pois áreas danificadas pelas queimadas tendem a ser reformadas, o que pode atrasar a produção de cana na safra 2025/26.
Em meio a esse cenário, a volatilidade do mercado de açúcar continua alta, influenciada tanto pela oferta brasileira quanto pelas condições climáticas e políticas de outros grandes produtores. "O Brasil traz um cenário altista para o mercado de açúcar, dada a incerteza sobre o comportamento das chuvas nos próximos meses, essenciais para o desenvolvimento das lavouras", concluiu Cardoso. A expectativa é de que os preços sigam elevados nos próximos meses, com uma recuperação parcial apenas no final da entressafra brasileira.
A combinação de incêndios no Brasil e a dependência do Hemisfério Norte para equilibrar os estoques globais coloca o açúcar em uma posição delicada, com um mercado atento às variações climáticas e ao comportamento dos principais players globais.