23/09/2024 às 09h18min - Atualizada em 23/09/2024 às 09h18min

Inovação brasileira: pesquisadores criam filme biodegradável que economiza fertilizantes

Tecnologia à base de algas e nanocelulose pode reduzir o uso de plástico e fertilizantes, além de aumentar a eficiência agrícola em diversas culturas

- Da Redação, com Canal Rural
Foto: Divulgação

Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em parceria com um produtor de antúrios de Holambra (SP), desenvolveram uma inovação que promete transformar o setor agrícola: um filme biodegradável feito à base de algas e nanocelulose. O material, além de ser mais sustentável que alternativas convencionais, libera fertilizantes de forma lenta e eficiente, otimizando a absorção de nutrientes pelas plantas e reduzindo desperdícios.

 

Esse avanço se destaca não apenas pela economia de fertilizantes, mas também pela substituição de materiais plásticos usados na agricultura, como as esferas de microplásticos, comumente empregadas na liberação controlada de fertilizantes. “Utilizamos uma técnica semelhante à inserção de fertilizantes nas esferas plásticas, mas nosso material é biodegradável. Em cerca de 90 dias, ele praticamente desaparece”, explica Claudinei Fonseca Souza, pesquisador da UFSCar envolvido no projeto.

 

Tecnologia sustentável e nacional

 

O filme foi criado com o objetivo de substituir recipientes importados, usados em grande escala para a reprodução de plantas ornamentais, como o antúrio. Ao utilizar a carragena (extraída de algas vermelhas) e o alginato (derivado de algas marrons), combinados com nanofibras de celulose, a equipe conseguiu um material capaz de armazenar e liberar fertilizante de maneira gradual no solo.

 

A adição de nanofibras de celulose, em concentrações de até 5%, foi essencial para melhorar as propriedades mecânicas do filme, que precisa ser resistente o suficiente para manter a estrutura da planta, mas não ao ponto de inibir o crescimento de suas raízes. Os melhores resultados foram obtidos com 4% de nanocelulose, o que permitiu à equipe moldar vasinhos (de 4 cm de altura por 3,5 cm de diâmetro) adequados para a reprodução de antúrios e outras culturas.

 

Eficiência comprovada em campo

 

A pesquisa foi além dos testes laboratoriais. Em campo, na cidade de Holambra, os vasinhos produzidos com o filme biodegradável foram testados diretamente no cultivo de antúrios. A cada 30 dias, os pesquisadores coletaram amostras para avaliar a liberação dos fertilizantes e a degradação do material. Em 90 dias, o filme se degradou completamente, comprovando sua eficácia e biodegradabilidade.

 

A liberação dos nutrientes ocorre por meio de uma diferença de potencial entre o filme enriquecido com fertilizante e o substrato da planta, permitindo um fornecimento gradual de nutrientes, o que melhora a absorção pelas raízes e evita o desperdício causado pela lixiviação, processo pelo qual os nutrientes são perdidos com a água da chuva ou irrigação.

 

Potencial para diversas culturas e larga escala

 

Embora o filme tenha sido desenvolvido inicialmente para o cultivo de antúrios, o potencial de aplicação se estende a diversas outras culturas agrícolas. “Estamos testando a tecnologia em campo, replicando as mesmas condições dos agricultores e monitorando a liberação do material quase em tempo real”, afirma Souza. O pesquisador destaca que, além de ornamental, o filme pode ser adaptado para culturas alimentares, como hortaliças, grãos e frutas.

 

Com o Brasil sendo o maior produtor mundial de celulose e possuindo abundância de algas, a tecnologia tem grande potencial para ser produzida em larga escala, favorecendo tanto pequenos quanto grandes produtores. Entretanto, Souza alerta que, para atingir a escala industrial, é necessário aperfeiçoar os últimos detalhes do processo, além de patentear o material. A viabilidade econômica é outro ponto importante, já que o objetivo é oferecer uma solução sustentável e acessível.

 

Vantagens da inovação para o setor agrícola

 

O filme à base de algas e nanocelulose traz uma série de vantagens para a agricultura, combinando sustentabilidade, inovação e eficiência. Entre os principais benefícios, destacam-se: Economia de fertilizantes: A liberação controlada do fertilizante reduz perdas por lixiviação, resultando em maior eficiência no uso de nutrientes. Substituição de plásticos: A tecnologia evita o uso de esferas de microplásticos, que são amplamente utilizadas na agricultura para a liberação de fertilizantes. Biodegradabilidade: O material se decompõe em cerca de 90 dias, não deixando resíduos que possam poluir o solo ou o ambiente. Facilidade de produção em larga escala: O Brasil tem condições favoráveis para a produção do filme, já que é o maior produtor de celulose do mundo e tem fácil acesso a algas marinhas.

 

 


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