O ano de 2023 e seu desfecho em 2024 estão delineando um período desafiador para a agricultura. O fenômeno climático El Niño, somado às mudanças climáticas globais, está deixando rastros de anormalidades no clima e no regime de chuvas do Brasil, tornando-se um complicador significativo para as atividades agrícolas.
A meteorologista Desireé Brandt, da Nottus, enfatiza que as mudanças climáticas em escala global têm impactado negativamente o regime de chuvas no país, dificultando as operações agrícolas. Ela explica que o El Niño, caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico ao longo da Linha do Equador, afeta drasticamente o clima global.
No contexto brasileiro, este fenômeno desencadeia situações contrastantes: enquanto algumas regiões do Sul sofrem com excesso de chuva, áreas do Norte e Nordeste enfrentam estiagens e seca. A coincidência do ápice do El Niño com a chegada da primavera amplifica os efeitos adversos nas regiões afetadas.
Desireé explica os desafios enfrentados no Rio Grande do Sul, estado onde o término do vazio sanitário deveria marcar o início do plantio de grãos. No entanto, as inundações recentes comprometeram extensas áreas de plantio, gerando um cenário desfavorável para os agricultores.
A previsão de chuvas abundantes para o Rio Grande do Sul durante a primavera aumenta o quadro de alerta, trazendo riscos de tempestades e granizo, o que coloca em xeque o manejo e a preparação do solo, prejudicando a qualidade das lavouras. O plantio da soja, vital para a região, enfrentará dificuldades consideráveis devido às condições desfavoráveis do solo.
Por outro lado, regiões do Norte e Nordeste, frequentemente castigadas pela seca durante o El Niño, ainda não enfrentam previsões tão severas quanto em anos anteriores. No entanto, as condições também impõem desafios significativos para os agricultores nessas áreas.
No Sudeste e no Centro-Oeste, a primavera promete um aspecto mais veranil, com sol pela manhã e chuvas vespertinas. No entanto, a preocupação reside na qualidade da precipitação, uma vez que o padrão irregular de chuvas pode comprometer a distribuição uniforme, afetando a qualidade do plantio e gerando desafios de manejo para os agricultores.
A previsão da Conab aponta para uma redução de 9,1% na produção de milho em relação ao ciclo anterior, impactada por uma diminuição na área plantada e nas produtividades esperadas. Por outro lado, a produção de soja e arroz deve apresentar um aumento considerável, atingindo valores recorde, apesar das adversidades climáticas previstas.
O enfrentamento desses desafios requer ações coordenadas, tanto em nível local como global, enfatizando a necessidade urgente de medidas de adaptação e mitigação das mudanças climáticas para garantir a segurança alimentar e a sustentabilidade da agricultura.