28/12/2023 às 10h08min - Atualizada em 28/12/2023 às 10h08min

​A Falsa sustentabilidade da Europa e a “pegada” oculta na produção de alimentos

Cientistas advertem para impacto ambiental global e violações em acordos comerciais da União Europeia com o Brasil

Fred Almeida
Foto: Reprodução
A imagem de uma agricultura europeia verde e sustentável é contestada por cientistas e pesquisadores que apontam para uma realidade oculta nos bastidores da cadeia de produção de alimentos. Laura Kehoe, pesquisadora da Universidade de Oxford, liderou uma iniciativa que reuniu 602 cientistas de diversas organizações europeias em uma carta à União Europeia, demandando uma revisão no acordo comercial com o Brasil.

O cerne dessa preocupação reside na importação de matéria-prima pela Europa, uma prática que, segundo Kehoe, está intimamente ligada ao desmatamento. O incremento da produção de soja, principal componente na dieta do gado europeu, levou a um aumento no desmatamento na Amazônia e em outras regiões sul-americanas. Dados da Comissão Europeia revelam que a UE importa cerca de 14 milhões de toneladas de soja anualmente, provenientes, em grande parte, de países como Brasil, Argentina, Paraguai e -Bolívia.

Em alguns países e regiões, esse crescimento exponencial da produção de soja contribuiu para a supressão de vegetação nativa em favor da plantação do grão. A carta assinada por Kehoe e seus colegas revela que somente em 2011, a importação de carne e ração para gado pela UE representou um desmatamento diário equivalente a 300 campos de futebol.

Kehoe ressalta que, apesar dos avanços da Europa em questões ambientais, muitas vezes esses ganhos ocorrem à custa de outros países e povos. Mar Cabeza, pesquisador da Universidade de Helsinque, aponta que as decisões em prol de uma agricultura mais ecológica na Europa tiveram impactos globais, transferindo para outras regiões do mundo as culturas que a Europa não produz mais.

Pesquisadores como Tiago Reis, da Universidade Católica de Louvain, e Tobias Kuemmerle, da Humboldt-Universität de Berlim, destacam os efeitos negativos da importação de alimentos pela Europa, como contaminação por agroquímicos e tensão com nativos e comunidades indígenas. Kuemmerle salienta que o desmatamento está diretamente ligado ao consumo da “carne verde” europeia e à importação de soja proveniente de países que desmatam sem regras. 

Com IHU

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